Harry poter está aguardando na rua dos Alferneiros. A Ordem da Fênix chegará em breve para trasferi-lo, em segurança, do endereço de sua familia trouxa, sem que Valdemort e seus seguidores saibam. A partir daí, o que Harry deverá fazer? Como será capaz de cumprir a missão, aparentemente impossível, que Dumbledore lhe deixou?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Gringotes (Capítulo Vinte e seis )


                                     

Seus planos estavam elaborados, os preparativos estavam completos; no menor
quarto, um único longo, grosso fio de cabelo negro (retirado do suéter que Hermione vestia na
mansão dos Malfoy) guardado dentro de um pequeno frasco de vidro sobre o consolo da lareira.
- E você estará usando a varinha verdadeira dela, - disse Harry, apontando com a
cabeça em direção a varinha de nogueira, - então eu creio que você será bem convincente.
Hermione parecia estar com medo de que varinha pudesse picá-la ou mordê-la
quando ela a apanhasse.
- Eu odeio essa coisa - ela disse em voz baixa. - Eu realmente odeio. Parece estar
tudo errado, isso não funciona adequadamente para mim... É como se fosse uma parte dela.
Harry não evitar de lembrar como Hermione havia descartado sua abominação pela
varinha de abrunheiro, insistindo que ele estava imaginando coisas quando ela não funcionava tão
bem quanto a dele próprio, falando para ele simplesmente praticar. Ele preferiu não repetir o mesmo
conselho para ela, afinal, a véspera da tentativa de assaltarem o Gringotes parecia o momento
errado para discutir com ela.
- Ela provavelmente vai te ajudar a entrar no personagem, - disse Rony. - Pense no
que esta varinha já fez!
- Mas essa é a questão! - falou Hermione. - Esta é a varinha que torturou o pai e mãe
do Neville, e quem sabe mais quantas pessoas? Esta é a varinha que matou o Sirius!
Harry não havia pensado nisso. Ele olhou para a varinha e foi atingido por uma
urgência brutal de quebrá-la, parti-la ao meio com a espada de Gryffindor, que estava apoiada
contra a parede ao lado dele.
- Eu sinto falta da minha varinha. - disse Hermione tristemente. - Eu gostaria que o
Sr. Olivaras tivesse feito outra para mim também.
Sr. Olivaras havia enviado à Luna uma nova varinha naquela manhã. Ela estava no
jardim de trás no momento, testando as capacidades dela até o início da noite. Dino, que perdeu sua
varinha para os Raptores, estava assistindo particularmente triste.
Harry observava a varinha de espinheiro que pertencia a Draco Malfoy. Ele estava
surpreso, mas agradecido por descobrir que ela funcionava tão bem com ele quanto a de Hermione.
Relembrando o que Olivaras contou a eles sobre os poderes secretos das varinhas, Harry pensou
saber qual era o problema de Hermione: ela não ganhou a fidelidade da varinha de nogueira por ter
sido tomada pessoalmente de Belatriz.
A porta do quarto se abriu e Griphook* entrou. Harry alcançou instintivamente o
cabo da espada trazendo-a para perto de si, mas se arrependeu no mesmo instante. Ele poderia jurar
que o duende notou. Procurando disfarçar o momento inoportuno, ele falou:
- Estamos apenas fazendo uma checagem final, Griphook. Dissemos a Gui e a Fleur
que estamos indo amanhã, e dissemos que não era necessário que se levantassem para se
despedirem.
Eles foram insistentes nesta questão, pois Hermione precisaria se transformar em
Belatriz antes deles partirem, e o quanto menos Gui e Fleur soubessem ou suspeitassem do que eles
estavam prestes a fazer, melhor. Eles avisaram que não voltariam. Como eles perderam a velha
barraca de Perkins na noite em que foram pegos pelos Raptores, Gui emprestou a eles uma outra.
Agora ela estava na mochila. Harry estava impressionado em descobrir como Hermione a tinha
protegido dos Raptores simplesmente escondendo dentro da meia.
Embora ele fosse sentir falta de Gui, Fleur, Luna e Dino, sem mencionar os confortos
vividos nas últimas semanas, Harry estava ansioso para escapar do confinamento da Casa de
Concha. Ele estava cansado de ficar se certificar de que não estavam sendo ouvidos, cansado de
ficar trancado num pequeno quarto escuro. Além de tudo, ele queria se livrar de Griphook.
Entretanto, precisamente como e quando eles deveriam partir sem que o duende desse falta da
espada de Gryffindor, era uma questão que ficava sem resposta. Era impossível descobrir como eles
iriam fazer isso, porque o duende raramente deixava Harry, Rony e Hermione a sós por mais de
cinco minutos.
- Ele poderia dar aula para minha mãe, - murmurou Rony enquanto os longos dedos
do duende apareciam na fresta das portas. Com os conselhos de Gui em mente, Harry não poderia
ajudar suspeitando que Griphook estivesse à espera por uma oportunidade de trapacear. Hermione
desaprovou o que foi planejado tão firmemente que Harry desistiu de colocar os esforços dela na
melhor forma de fazer isto; Rony, em um dos raros momentos em que eles ficavam livres de
Griphook, veio com nada melhor que: - Nós simplesmente teremos que protegê-la, companheiro.
Harry dormiu mal naquela noite. Acordado durante as primeiras horas, ele pensou
em como estava se sentindo na noite anterior à invasão do Ministério da Magia e lembrou com uma
determinação quase excitante. Agora ele experimentava dúvidas surpreendentes: Ele não poderia
afastar o medo de que tudo estivesse dando errado. Ele continuava dizendo a si mesmo que o plano
era bom, que Griphook sabia o que eles estavam armando, que eles estavam bem preparados para
todas as dificuldades que eles provavelmente encontrariam, mas mesmo assim se sentia inquieto.
Uma ou duas vezes ele percebeu a inquietação de Rony e teve certeza de que ele também estava
acordado, mas eles estavam dividindo o quarto com Dino, então ele nada disse.
Foi um alívio quando às seis horas eles puderem sair dos seus sacos de dormir, se
vestiram na penumbra, e foram para o jardim aonde encontraram Hermione e Griphook. O tempo
estava agradável, mas havia uma leve brisa, já que era maio. Harry observava as estrelas que ainda
brilhavam palidamente no céu escuro, ouvindo o barulho das ondas do mar batendo contra o
penhasco. Ele sentiria falta deste som.
Pequenos galhos verdes os forçavam a subirem através da terra vermelha do túmulo
de Dobby, em um ano o monte estaria coberto de flores. A pedra branca que escreveu o nome do
elfo já havia adquirido uma aparência desgastada. Ele percebeu que dificilmente eles poderiam ter
conseguido um lugar mais bonito para que Dobby descansasse, mas Harry sentiu dor e tristeza ao
pensar em deixá-lo para trás. Olhando para o túmulo, ele desejou saber como o elfo sabia aonde ir
para resgatá-los. Seus dedos se mexeram inconscientemente para a pequena bolsa ainda presa em
seu pescoço, através do qual ele podia sentir o fragmento do espelho pontudo no qual ele teve
certeza de ter visto o olho de Dumbledore. Procurou em volta ao ouvir o som de uma porta se
abrindo.
Belatriz Lestrange estava andando rapidamente através da relva na direção deles,
acompanhada por Griphook. Enquanto ela andava, enfiava a pequena bolsa dentro do bolso de
dentro de um outro conjunto de velhas túnicas que eles trouxeram do Largo Grimmauld. Apesar de
Harry saber perfeitamente bem que aquela era Hermione, ele não podia conter um calafrio de ódio.
Ela era mais alta do que ele, seus negros cabelos ondulados descendo pelas costas, pálpebras
pesadamente desdenhosas, como se estivessem fixos sobre ele; mas quando ela falou, e ele ouviu a
Hermione através da baixa voz de Bellatriz.
- Ela tem um gosto horrível, pior do que raiz de cuia (Gurdyroots)! Ok, Rony, venha
aqui para que eu possa lhe...
- Certo, mas não se esqueça que eu não gosto da barba muito comprida.
- Oh, pelo amor de Deus, não se trata de parecer bonito.
- Não é isso, é que atrapalha! Mas eu gostaria do meu nariz um pouco menor, tente, e
faça do mesmo jeito que você fez a última vez.
Hermione suspirou e começou com a trabalhar, murmurando sob sua respiração
enquanto transformava vários aspectos da aparência de Rony. Ele deveria ganhar uma identidade
completamente falsa, e eles estavam contando com a maligna atmosfera lançada por Belatriz para
protegê-lo. Enquanto isso, Harry e Griphook iriam estar escondidos sob a Capa da Invisibilidade.
- Pronto, - disse Hermione. - Como ele está, Harry?
Era possível distinguir Rony debaixo do seu disfarce, mas só porque, Harry pensou,
ele o conhecia muito bem. O cabelo de Rony agora estava comprido e cheio, tinha barba e bigode
castanhos e grossos, sem sardas, nariz pequeno e largo e grossas sobrancelhas.
- Bem, ele não faz o meu tipo, mas vai servir, - disse Harry. - Devemos ir, então?
Os três olharam de volta para a Casa das Conchas, que permanecia escura e em
silêncio sob as pálidas estrelas, então se viraram e começaram a caminhar em direção ao ponto,
além da parede limite, onde o feitiço Fidelius parava de funcionar e eles estariam aptos para
desaparatar.
Quando passaram do portão, Griphook falou:
- Eu devo subir agora, Harry Potter, suponho?
Harry se abaixou e o duende subiu nas suas costas, suas mãos grudadas no pescoço
de Harry. Ele não era pesado mas Harry não gostava da sensação do duende e da surpreendente
força com que ele se segurava. Hermione tirou a Capa da Invisibilidade de dentro da bolsa e a jogou
sobre eles.
- Perfeito, - ela disse, balançando a capa para conferir os pés de Harry. - Não dá para
ver nada. Vamos.
Harry se virou e continuou a caminhada com Griphook nos seus ombros, se
concentrando totalmente no Caldeirão Furado, a hospedaria que era a entrada do Beco Diagonal. O
duende se segurava cada vez mais forte conforme eles iam entrando na escuridão compressora;
segundos depois os pés de Harry encontraram a calçada, eles chegaram a Estrada Charing Cross.
Trouxas passavam apressados com expressões derrotadas no início da manhã, completamente
inconscientes da existência da pequena hospedaria.
O bar do Caldeirão Furado estava quase deserto. Tom, o corcunda e desdentado
senhorio, estava polindo os copos atrás do balcão do bar; dois bruxos que conversavam em voz
baixa num canto distante olharam para Hermione e voltaram para a escuridão.
- Madame Lestrange, - murmurou Tom, e então Hermione parou e inclinou a cabeça
subservientemente.
- Bom dia, - disse Hermione, e enquanto Harry passava, ainda carregando Griphook
nas costas debaixo da Capa da Invisibilidade, ele percebeu que Tom parecia surpreso.
- Muito educada, - Harry sussurrou no ouvido de Hermione quando eles saiam da
pensão em direção ao pequeno quintal. - Você precisa tratar as pessoas como se elas fossem lixo!
- Ok, ok!
Hermione ergueu a varinha de Belatriz e bateu rapidamente num tijolo indefinível da
parede em frente a eles. De repente, os tijolos começaram a girar e rodopiar: um buraco apareceu no
meio deles e crescia cada vez mais formando finalmente um portal para uma estreita rua, que era o
Beco Diagonal.
Tudo estava quieto, era quase na hora das lojas abrirem, havia apenas alguns poucos
compradores. A sinuosa rua estava muito diferente agora comparando com o lugar animado que
Harry conheceu antes do seu primeiro ano em Hogwarts, muitos anos antes. Mais lojas do que
nunca haviam sido inauguradas, apesar de alguns estabelecimentos dedicados as Artes das Trevas
terem sido criados desde a sua última visita. O rosto de Harry resplandecia nos cartazes que
estavam colados nas várias janelas, todos titulados com as palavras INDESEJÁVEL NÚMERO
UM.
Algumas pessoas maltrapilhas estavam sentadas desordenadamente nas portas. Ele os
escutava gemendo para os transeuntes, pedindo por ouro, insistindo que eram bruxos de verdade.
Um homem possuía um curativo ensangüentado acima do olho.
Na medida em que eles caminhavam ao longo da rua, os pedintes olhavam para
Hermione. Eles pareciam desaparecer sem serem notados na frente dela, esboçado má sorte em seus
rostos e fugindo o mais rápido que eles podiam. Hermione olhou curiosamente para eles, até que o
homem com o curativo ensangüentado no olho chegou atordoado atravessando seu caminho.
- Minhas crianças, - ele berrou, apontando para ela. A voz dele era dissonante e alta,
soava perturbado. - Onde estão minhas crianças? O que ele fez com elas? Você sabe, você sabe!
- E-eu, realmente... - gaguejou Hermione.
O homem disparou para cima dela, alcançando seu pescoço. Então, com uma
pancada e uma explosão de luzes vermelhas ele foi jogado para trás, caindo na calçada,
inconsciente. Rony estava imóvel, sua varinha ainda estendida e com uma visível expressão de
choque por de trás da barba. Rostos apareceram nas janelas dos dois lados da rua, enquanto um
pequeno grupo de bruxos com boa aparência, que estavam passando, reuniram suas túnicas sobre
eles, começaram a andar rapidamente, ansiosos por acabarem com a cena.
A chegada deles no Beco Diagonal não poderia ter sido mais notável; por um
momento Harry ponderou se não seria melhor eles irem embora agora e tentar pensar em um plano
diferente. Antes que ele pudesse se mexer ou falar com seus amigos eles escutaram um grito atrás
deles.
- Por que, Madame Lestrange?
Harry olhou a volta e Griphook apertou ainda mais seu pescoço: um bruxo alto e
magro, com cabelos longos e grisalhos na parte superior da cabeça, nariz pontudo, estava andando
rapidamente na direção deles.
- Este é Travers, - assobiou o duende no ouvido de Harry, mas naquele momento
Harry não podia pensar em quem era Travers. Hermione se ergueu e disse com todo o desdém que
ela conseguiu reunir:
- E o que você quer?
Travers parou no lugar em que estava, claramente afrontado.
- Ele é outro Comensal da Morte, - sussurrou Griphook, e Harry andou de lado para
poder repetir a informação no ouvido de Hermione.
- Eu vim simplesmente lhe cumprimentar, - disse Travers calmamente, - mas se
minha presença não for bem-vinda...
Harry reconheceu agora sua voz. Travers era um dos Comensais da Morte que foram
convocados para a casa do Xenófilo.
- Não, não, de maneira nenhuma, Travers, - disse Hermione rapidamente, tentando
consertar seu erro. - Como vai você?
- Bem, confesso que estou surpreso por ver você fora e tão bem, Belatriz.
- Verdade? Por quê? - perguntou Hermione.
- Bem, - Travers tossiu, - eu ouvi que os habitantes da Mansão dos Malfoy estavam
confinados na casa, depois do... eh... da fuga.
Harry desejou que Hermione mantivesse a calma e tivesse cabeça. E se isso fosse
verdade, e Bellatriz não devesse estar em público...
- O Lorde das Trevas perdoa aqueles que o serviram mais fielmente no passado, -
falou Hermione numa magnífica imitação da mais impetuosa maneira de Belatriz. - Talvez, Travers,
seu crédito com ele não seja tão bom quanto o meu. Apesar do Comensal ter parecido
ofendido também pareceu menos desconfiado. Ele fitou o homem que Rony havia acabado de
atordoar.
- Como isso ofendeu você?
- Isso não importa, ele não fará novamente, - disse Hermione calmamente.
- Alguns desses sem varinha podem ser preocupantes, - disse Travers. -Enquanto eles
não fazem nada a não ser pedir, não tenho nenhuma oposição; mas um deles de fato me pediu para
defender o seu caso no Ministério semana passada. “Eu sou uma bruxa, senhor, eu sou uma bruxa,
deixe-me provar isso a você!” - ele disse em uma imitação estridente. - Como se eu fosse dar a ela
minha varinha... mas a varinha de quem, - disse Travers curiosamente, - você está usando agora,
Belatriz? Eu ouvi dizer que a sua foi...
- Eu estou com a minha varinha aqui - disse Hermione friamente, erguendo a varinha
de Belatriz. - Eu não sei quais rumores você andou ouvindo, Travers, mas você parece bastante mal
informado.
Travers parecia um pouco abatido com aquilo, então se virou para Rony.
- Quem é seu amigo? Não o reconheço.
- Este é Dragomir Despard, - disse Hermione; eles haviam decidido que um
estrangeiro fictício era o disfarce perfeito para Rony assumir. - Ela fala muito pouco inglês, mas ele
está na simpatia com os objetivos do Lorde das Trevas. Ele veio da Transilvânia para ver nosso
novo regime.
- Não me diga! Como vai Dragomir?
- E você? - disse Rony, erguendo a mão.
Travers estendeu dois dedos e apertou a mão de Rony como se estivesse com medo
de se sujar.
- Então, o que traz você e... eh... seu simpático amigo ao Beco Diagonal tão cedo? -
perguntou Travers.
- Eu preciso ir ao Gringotes, - disse Hermione.
- Ah, eu também! - disse Travers. - Ouro, imundo ouro. Não podemos viver sem ele,
eu confesso que lamento a necessidade de harmonizar com nossos amigos de dedos longos.
Harry sentiu Griphook bater as mãos apertando sua garganta.
- Vamos? - disse Travers, gesticulando para que Hermione passasse.
Hermione não tinha outra escolha se não segui-lo e acompanhá-lo ao longo da
sinuosa rua até o lugar onde o Gringotes branco de neve permanecia acima das outras pequenas
lojas. Rony inclinou-se ao lado deles, e Harry e Griphook os seguiram.
Um atento Comensal da Morte os vigiando era a última coisa que eles precisavam, e
o pior era que com Travers ao lado de quem ele acreditava ser Belatriz Lestrange não teria como
Harry se comunicar com Hermione ou Rony. Logo eles chegaram à base da escada de mármore que
levava às grandes portas de bronze. Assim como Griphook os havia avisado, os pálidos duendes que
costumavam guardar a entrada haviam sido trocados por dois bruxos, ambos seguravam longos e
dourados bastões.
- Ah, sondas, - apontou Travers teatralmente, - tão grosseiro... mas tão eficiente!
E ele subiu os degraus, abaixando a cabeça para direita e para esquerda de forma a
cumprimentar os bruxos, que levantavam os bastões dourados e passavam de cima a baixo do seu
corpo. As sondas, Harry sabia, que detectavam feitiços de ocultamento e objetos mágicos
escondidos. Ciente de que ele só teria alguns segundos, apontou a varinha de Draco para cada um
dos guardas e sussurrou “Confundus” duas vezes. Imperceptível por Travers, que estava olhando
para as portas de bronze no hall menor, cada um dos guardas deu um pequeno sobressalto quando o
feitiço os atingiu.
Os negros cabelos de Hermione ondulavam atrás dela enquanto ela subia as escadas.
- Um momento, madame! - disse o guarda erguendo sua sonda.
- Mas se você acabou de me passar isso! - disse Hermione com a voz arrogante de
Belatriz. Travers olhou ao redor, sobrancelhas levantadas. O guarda estava confuso, olhou para a
fina e dourada sonda e então disse para o guarda que lha fazia companhia com uma voz levemente
aturdida:
- Sim, você acabou de checá-los, Mário.
Hermione desviou adiante. Rony ao seu lado, Harry e Griphook andando invisíveis
atrás deles. Harry olhou para os bruxos depois que passaram pela entrada. Ambos coçavam a
cabeça.
Dois duendes haviam levantado ao final das portas interiores, feitas de prata, e transmitiam
um aviso de horrível retaliação para potenciais gatunos. Harry olhava aquilo, e uma lembrança
repentina veio até ele: estava neste mesmo local, no dia que ele tinha completado onze anos, o mais
maravilhoso aniversário de sua vida, Hagrid em pé ao lado dele dizendo. “Como eu disse, só um
louco tentaria roubar isso aí”. Gringotes tinha parecido um lugar de sonho nesse dia, o
encantamento aumentou quando descobriu a quantidade de ouro que ele tinha e nunca havia tido
conhecimento, e nunca por um instante ele sonhou que retornaria para roubar... Mas em segundos
eles eram levados em um amplo corredor do banco coberto de mármore.
O comprido balcão estava repleto de duendes sentados em altas cadeiras, atendendo os
primeiros clientes do dia. Hermione, Rony e Travers iam em direção a um velho duende que estava
a examinar uma espessa moeda de ouro através de seus óculos. Hermione permitia que Travers
mantivesse passo à frente dela no pretexto de explicar características do lugar para Rony.
O duende atirou a moeda que segurava de lado, disse a ninguém em particular
“Leprechaun*”, e então cumprimentou Travers, que lhe cedeu então uma minúscula chave dourada,
que foi examinada e devolvida.
Hermione passou adiante.
- Sra. Lestrange! - disse o duende, evidentemente assustado. - Perdão! Co–como posso
ajudá-la?
- Eu desejo abrir o meu cofre - disse Hermione.
O velho duende pareceu recuar um pouco. Harry olhou em volta. Não só Travers estava de
volta, observando, mas vários duendes deixaram seus afazeres para fitar Hermione.
- Você tem... identificação? - perguntou o duende.
- Identificação?! Eu... Eu nunca fui questionada a respeito de identificação antes... - disse
Hermione.
- Eles desconfiam! - sussurrou Griphook ao ouvido de Harry. - Eles temem ser enganados
por um impostor!
- Sua varinha é suficiente, madame, - disse o duende. Ele conteve um leve tremor na mão,
e Harry sabia que os duendes de Gringotes estavam cientes de que a varinha de Belatriz havia sido
furtada.
- Agora, agora, - disse Griphook ao ouvido de Harry, - a maldição Imperius!
Harry levantou a varinha por baixo da capa, mirando no velho duende, e sussurrou, pela
primeira vez na sua vida “Imperius!”.
Uma curiosa sensação passou pelo braço de Harry, uma impressão de formigamento, calor
que parecia fluir a partir de sua mente, as artérias e veias lhe conectando até a varinha e a maldição
foi lançada. O duende pegou a varinha de Belatriz, examinado-a de perto, e dizendo:
- Ah , você tem uma nova varinha, Sra. Lestrange!
- O que? - disse Hermione. - Não, não, essa é minha...
- Uma nova varinha? - disse Travers, aproximando-se do balcão de novo; ainda com os
duendes a observá-lo por toda parte. - Mas como poderia ter feito, com que fabricante de varinhas
você conseguiu?
Harry agiu sem pensar: Apontando sua varinha para Travers, ele murmurou “Imperius!”
mais uma vez.
- Oh sim, eu vejo, - disse Travers , olhando para a varinha de Bellatriz, - sim, muito bonita.
E está trabalhando bem? Eu sempre pensei que varinhas precisam ser “amansadas”, não é?
Hermione olhou completamente confusa, mas para o enorme alívio de Harry ela aceitou a
bizarra reviravolta dos acontecimentos sem comentar.
O velho duende atrás do balcão bateu palmas e um duende mais jovem se aproximou.
- Eu devo precisar os Clankers, - disse ao duende, que se afastou e regressou a seguir com
uma bolsa de couro que parecia estar cheio de metal tilintando, que ele entregou ao seu Sr. - Bom,
bom! Assim, queira seguir-me, Sra. Lestrange, - disse o velho duende saltando do seu assento e
desaparecendo de vista. - Eu devo levá-la ao seu cofre.
Ele apareceu no final do balcão, caminhando alegremente em direção a eles, o conteúdo da
bolsa de couro ainda estrepitava. Travers estava agora levantando silenciosamente ainda de queixo
caído. Rony estava prestando atenção para este estranho fenômeno que era a desatenção de Travers
com confusão.
- Espere... Bogrod!
Outro duende veio apressado em torno do balcão.
- Nós temos instruções, - ele dizia com um olhar para Hermione. - Perdoe-me, Senhora,
mas tem havido recomendações especiais a respeito do cofre dos Lestrange.
Ele sussurrou urgentemente no ouvido de Bogrod, mas o duende sob a maldição Imperius
o ignorou, desligado.
- Estou ciente das instruções. Sra. Lestrange deseja visitar seu cofre. Família muito
antiga... velhos clientes... Por aqui, por favor...
E, ainda tilintando, apressou-se em direção a uma das muitas portas do salão. Harry olhou
atrás para Travers, o qual era ainda fixava o local com um olhar anormalmente perdido, e tomou sua
decisão. Com um toque em sua varinha ele fez Travers vir com eles, andando mansamente no
encalço deles ao alcançarem a porta e atravessar uma passagem de pedra adiante, que era acesa com
archotes flamejantes.
- Estamos em apuros: eles suspeitam, - disse Harry assim que a porta fechou atrás deles e
ele puxou sua Capa da Invisibilidade. Griphook deu de ombros: nem Travers nem Bogrod
mostraram sequer uma leve surpresa ao repentino aparecimento de Harry Potter ao centro deles. -
Eles estão sob Imperius, - ele adicionou, em resposta a Hermione e Rony que estavam confusos
sobre Travers e Bogrod, estavam ambos agora olhando o vazio. - Eu não acho que eu fiz aquilo
fortemente o suficiente, eu não sei...
E outra lembrança veio em sua mente, a verdadeira Bellatriz Lestrange gritando a ele
quando ele tinha pela primeira vez tentado usar uma Maldição Imperdoável: “Você precisa desejar,
Potter!”
- O que faremos? - perguntou Rony. - Nós deveríamos cair fora enquanto podemos?
- Se nós podemos, - disse Hermione , olhando para trás em direção a porta que dava para o
salão principal, além do qual eles sabiam o que estava acontecendo.
- Nós já fomos longe, eu digo que devemos continuar. - disse Harry.
- Bom! - disse Griphook. - Então nós precisamos do Bogrod para controlar o carrinho; eu
não tenho a autoridade. Mas lá não haverá aposentos para o bruxo.
Harry apontou sua varinha para Travers.
- Imperio!
O bruxo desviou e saiu ao longo da escuridão a caminho em um caminhar elegante.
- O que você está fazendo com ele?
- Esconda-se, - disse Harry apontando sua varinha para Bogrod, o qual apitou para
convocar um carrinho que veio em direção a eles na escuridão. Harry estava certo que ele podia
ouvir berros atrás deles no salão principal, eles subiram com dificuldade, Bogrod à frente de
Griphook, Harry, Rony, e Hermione abarrotados atrás.
Com um solavanco o carrinho se moveu, ganhando velocidade: eles passaram rapidamente
por Travers, que estava se retorcendo para dentro de uma rachadura na parede, quando então o
carrinho começou a rodar e a girar pelo labirinto das passagens, escorregando para baixo o tempo
todo. Harry não conseguia escutar nada além do chacoalhar do carrinho nos trilhos: seu cabelo
voava para trás, enquanto eles desviavam de estalactites*, voando cada vez mais para baixo da terra,
mas ele continuava olhando para trás. Eles deveriam também ter deixado várias pegadas para trás;
quanto mais ele pensava a respeito, mais tola parecia a idéia de ter disfarçado Hermione de
Bellatriz, de ter trazido a varinha dela, quando os comensais da morte sabiam quem a havia
roubado...
Eles estavam mais profundo do que Harry jamais havia penetrado em Gringotes; eles
olharam para o marcador de velocidade na curva e viram à sua frente, com alguns segundos de
distancia, uma cascata de água caindo sobre os trilhos. Harry ouviu Griphook gritar “Não!”, mas
não havia freio. Eles passaram zunindo através ela. A água encheu os olhos e a boca de Harry: ele
não podia ver ou respirar. Então, com uma virada para o lado terrível, o carrinho sacudiu, eles
foram todos lançados para fora. Harry ouviu o carro se estraçalhar em pedaços contra a parede,
ouviu Hermione gritar alguma coisa, e se viu deslizar para o chão como se não tivesse peso, caindo
sem dor no solo rochoso da passagem.
- Feitiço de amortecimento, - Hermione balbuciou, enquanto Rony o levantava, mas para o
terror de Harry ele viu que ela não era mais Bellatriz: ao contrário, ela estava parada lá, com vestes
muito largas, encharcada e completamente ela mesma; Rony estava ruivo e sem barba novamente.
Eles estavam percebendo isso olhando uns para os outros, sentindo suas próprias faces.
- A Ruína do Ladrão! - disse Griphook, levantando-se e olhando de volta para o dilúvio
sobre os trilhos, o qual, Harry saiba agora, havia sido mais do que água. - Ela lava todos os
encantamentos, todas as ocultações mágicas. Eles sabem que há impostores em Gringotes, eles
mandaram defesas contra nós.
Harry viu Hermione checar se ainda tinha a bolsa, e rapidamente enfiou a mão dentro da
jaqueta para se assegurar de que ainda tinha a capa de invisibilidade. Então ele se virou para ver
Bogrod balançado sua cabeça de perplexidade: A Ruína do Ladrão parecia tê-lo libertado da
maldição Imperius.
- Nós precisamos dele, - disse Griphook, - Nós não podemos entrar no cofre sem um
duende de Gringotes. E nós precisamos dos Clankers.
- Imperius! - disse Harry novamente; sua voz ecoou pela passagem de pedra enquanto ele
sentia novamente a sensação de controle mental que fluía do cérebro para a varinha. Bogrod
submeteu-se mais uma vez à sua vontade, a expressão confusa de seu rosto foi substituída por uma
educada indiferença, enquanto Rony se apressava em pegar a bolsa de couro com as ferramentas de
metal.
- Harry, eu acho que estou escutando pessoas chegando! - disse Hermione e apontou a
varinha de Bellatriz para a parede de água e gritou “Protego!”. Eles viram o feitiço escudo quebrar
a corrente de água encantada enquanto bloqueava a passagem.
- Boa idéia! - disse Harry. - Mostre-nos o caminho Griphook!
- Como é que nós vamos conseguir sair daqui novamente? - perguntou Rony enquanto eles
apressavam seus pés na direção do duende, Bogrod ofegando como um cachorro velho.
- Vamos nos preocupar com isso somente quando tivermos que fazer. - Disse Harry. Ele
estava tentando escutar: achava que estava escutando alguma coisa batendo e se movendo nas
proximidades. - Griphook, quanto mais?
- Não muito, Harry Potter, não muito.
Então eles dobraram em uma esquina e viram a coisa que Harry estava preparado para ver,
mas que ainda assim fez com que eles parassem sobressaltados.
Um dragão gigante estava amarrado ao solo em frente a eles, barrando o acesso a quatro ou
cinco dos cofres mais profundos do lugar. As escamas da fera haviam se tornado pálidas e
esfoliadas, durante seu longo cárcere sob o solo, seus olhos eram rosa leitoso; as duas patas traseiras
estavam calçadas com pesados punhos dos quais saiam correntes levando até pregos enormes,
cravados profundamente dentro do chão rochoso. Suas grandes asas espetadas, dobradas fechadas
perto de seu corpo, encheriam a câmara se ele as espalhasse, e quando ele virou sua feia cabeça da
direção dos garotos, rosnou com um barulho que fez a rocha tremer, abriu sua boca e cuspiu um jato
de fogo que mandou os garotos correndo de volta pela passagem.
- Ele é parcialmente cego, - ofegou Griphook, - mas ainda mais selvagem por causa disso,
no entanto, nós temos meios de controlá-lo. Ele foi ensinado sobre o que esperar quando os
Clankers aparecem, me entregue eles.
Rony passou a maleta para Griphook, e o duende puxou para fora um grande número de
pequenos instrumentos metálicos que quando balançados faziam um longo barulho como se
miniaturas de martelos batessem em bigornas. Griphook entregou-os: Bogrod aceitou docilmente.
- Vocês sabem o que fazer, - Griphook falou para Harry, Rony e Hermione. - Ele vai
esperar pela dor quando escutar o barulho. Ele vai recuar, e Bogrod deve colocar a palma dele sob a
porta do cofre.
Eles avançaram pela esquina novamente, balançando os Clankers, e o barulho ecoou pelas
paredes rochosas, enormemente ampliado, tanto que a o crânio de Harry pareceu vibrar com ele. O
dragão soltou um outro rugido rouco, então recuou. Harry podia vê-lo tremendo, e quando eles se
aproximaram ele pôde ver as cicatrizes feitas por várias queimaduras na sua face, e adivinhou que
ele havia sido ensinado a temer espadas quentes quando escutasse o som dos Clankers.
- Faça-o pressionar sua mão contra a porta, - Griphook gritou para Harry, que virou sua
varinha na direção de Bogrod. O velho duende obedeceu, pressionando sua palma contra a madeira,
e a porta do cofre derreteu, revelando a entrada de uma caverna, abarrotada do chão ao teto por
moedas e globos de ouro, armaduras de prata, pele de estranhas criaturas – algumas com longas
caudas, outras com asas encurvadas – poções em frascos de jóias, e uma caveira ainda usando uma
coroa. - Procurem rápido! - disse Harry quando eles todos entraram correndo no cofre. Ele havia
descrito a taça de Hufflepuff para Rony e Hermione, mas se também houvesse a outra Horcrux
desconhecida naquele cofre, ele não sabia como ela se pareceria. Ele mal teve tempo para olha ao
redor, no entanto, antes que houvesse um barulho abafado atrás deles: a porta tinha reaparecido,
selando-os dentro do cofre, mergulhando-os numa total escuridão.
- Não tem problema, Bogrod vai ser capaz de nos libertar! - disse Griphook, quando Rony
deu um grito de surpresa. - Acendam suas varinhas, vocês não podem fazer isso? Vamos, não temos
muito tempo!
- Lumus!
Harry percorreu sua varinha iluminada ao redor do cofre: o raio de luz caía sobre jóias
cintilantes; ele viu a espada falsa de Gryffindor deitada em uma estante alta entre uma confusão de
correntes. Rony e Hermione haviam acendido suas varinhas também, e estavam agora examinando
a pilha de objetos que os rodeava.
- Harry, isto poderia ser... ? Aargh!
Hermione gritou de dor, e Harry virou sua varinha para ela a tempo de ver um globo de
jóia caindo de sua mão. Mas quando ele caiu, o chão foi coberto com globos idênticos, rolando em
todas as direções, impossível de distinguir o original entre eles.
- Isso me queimou! - lamentou Hermione, chupando os dedos com bolhas.
- Eles acrescentaram as maldições Germino e Flagrante! - disse Griphook.
- Tudo aquilo que você tocar vai queimar e se multiplicar, mas as cópias são sem valor... e
se você continuar a segurar o tesouro, será certamente esmagado até a morte pelo peso do ouro se
expandindo.
- Ok, não toquem em nada! - disse Harry desesperadamente, mas enquanto ele dizia isso,
Rony acidentalmente cutucou um dos globos caídos com o seu pé, e vinte novos explodiram
enquanto Rony saltava no lugar, parte de seus sapatos queimados pelo contato com o metal quente.
- Fiquem parados, não se mexam! - disse Hermione, agarrando-se em Rony.
- Apenas olhem ao redor, - disse Harry. - Lembrem-se, a taça é pequena e dourada, tem um
texugo gravado nela, duas asas... de qualquer forma vejam se conseguem localizar o símbolo de
Ravenclaw em alguma coisa, uma águia...
Eles direcionaram suas varinha para cada canto e cada fenda, girando
cuidadosamente no mesmo lugar. Era impossível não encostar em alguma coisa: Harry mandou uma
grande cascata de falsos galeões para o chão, onde eles se juntaram aos globos, e agora havia
escassos lugares em que ele poderiam colocar seus pés, o ouro em brasa emanava calor, então
aquele cofre parecia uma fornalha. A luz da varinha de Harry passando por escudos e capacetes
feitos por duendes, colocados em estantes que iam até o teto, eles levantavam o feixe de luz cada
vez mais alto, até que de repente ele encontrou um objeto que fez seu coração e suas mão tremerem.
- Está ali, ali em cima!
Rony e Hermione apontaram suas varinhas para lá também, então a pequena taça cintilava
sob três focos de luz: a taça que pertenceu a Helga Hufflepuff, que passou para a posse de Hepzibah
Smith, de quem foi roubada por Tom Riddle.
- E como diabos é que nós vamos chegar lá em cima sem tocar em nada? - perguntou
Rony.
- Accio taça! - gritou Hermione, que evidentemente havia esquecido o que Griphook havia
lhe contado durante a preparação dos planos, por causa do desespero.
- Não adianta, não adianta! - resmungou o duende.
- Então o que a gente faz?! - disse Harry, olhando ferozmente para o duende. - Se você
quer a espada, Griphook, então você vai ter que nos ajudar mais do que... espere! Eu posso tocar
uma coisa com a espada? Hermione, me dê ela aqui!
Hermione remexeu atrapalhadamente suas vestes, puxou a bolsa de contas, buscou
minuciosamente por alguns segundos e então retirou a brilhante espada. Harry a agarrou por seu
cabo de rubi e tocou a ponta da lâmina em uma bandeira de prata que estava próxima, a qual não se
multiplicou.
- Se ao menos eu pudesse passar a espada pela asa... mas como é que eu vou chegar até lá
em cima?
A estante na qual a taça repousava estava fora do alcance de qualquer um deles, mesmo
Rony, que era o mais alto. O calor dos tesouros encantados subia em ondas, e o suor descia pelo
rosto e pelas costas de Harry enquanto ele se esforçava para encontrar um caminho rumo à taça, e
então eles ouviram o dragão rugir do outro lado da porta do cofre, e o som tinindo mais e mais alto.
Eles estavam verdadeiramente encrencados agora: não havia nenhum jeito de sair exceto
através da porta, e uma multidão de duendes pareciam estar se aproximando do outro lado da porta.
Harry olhou para Rony e Hermione e sentiu o terror em seus rostos.
- Hermione, - ele disse, enquanto o barulho ia ficando cada vez mais alto, - eu preciso
chegar ali em cima, nós temos que nos livrar disso...
Ela levantou sua varinha, apontou para Harry, e sussurrou, “Levicorpus.”
Suspenso no ar pelo tornozelo, Harry atingiu uma armadura e replicas brotaram como
brancos corpos quentes, enchendo o espaço já abarrotado. Com gritos de dor, Rony e Hermione, e
os dois duendes foram jogados para o lado na direção dos objetos, que também começaram a se
replicar. Parcialmente enterrados em uma montanha de tesouros vermelhos e quentes, eles se
esforçaram e gritaram enquanto Harry enfiava a espada pela asa da taça de Hufflepuff, prendendo-a
na lâmina.
- Impervius! - guinchou Hermione numa tentativa de proteger a si mesma, Rony e os
duendes do metal que queimava.Então o pior grito de todos fez Harry olhar para baixo; Rony e
Hermione estavam perdidos no meio do tesouro, esforçando-se para evitar que Bogrod deslizasse
para baixo da montanha que crescia, mas Griphook havia afundado para fora da visão, e nada além
da ponta de longos dedos estava à mostra.
Harry apanhou os dedos de Griphook e puxou. O duende cheio de bolhas emergiu
gradualmente, uivando.
- Liberatucorpus! - gritou Harry, e com a batida ele e Griphook caíram na superfície do
tesouro que se avolumava, e a espada voou das mãos de Harry.
- Pegue ela! - Harry gritou, lutando contra a dor que o metal quente produzia em sua pele,
quando Griphook escalou seus ombros novamente, determinado a evitar a crescente massa de
objetos quentes. - Onde está a espada? Ela está com a taça enganchada na lâmina!
O barulho do outro lado da câmara estava crescendo assustadoramente... era tarde demais...
- Aqui!
Foi Griphook que avistou ela e foi Griphook que deu o bote, e naquele momento Harry
soube que o duende nunca esperou que eles fossem manter sua palavra. Uma das mãos segurando
firmemente um punhado de cabelo de Harry, para ter certeza de que ele não afundaria no mar de
calor que vinha do ouro que queimava, Griphook agarrou o cabo da espada e lançou-a para fora do
alcance de Harry. A pequena taça dourada cortada pela lâmina da espada foi arremessada pelo ar. O
duende montou em Harry, que mergulhou e pegou a taça, e ainda que ele sentisse ela escaldando
sua carne, ele não soltou o objeto, mesmo quando inumeráveis taças de Hufflepuff caíram de seus
pulsos, chovendo sobre ele quando a entrada do cofre abriu e ele se viu caindo incontrolavelmente
em uma avalanche de ouro e prata ardentes, que trouxe ele, Rony e Hermione para a câmara
externa.
Pouco atento à dor das queimaduras que cobriam seu corpo, e ainda suspenso sobre o
volume de tesouros duplicados, Harry empurrou a taça para dentro de seu bolso e tentou resgatar a
espada, mas Griphook havia partido. Deslizando pelos ombros de Harry no momento em que pôde,
ele saiu correndo rapidamente, procurando cobertura entre os duendes, brandindo a espada e
gritando “Ladrões! Ladrões! Ajuda! Ladrões!” ele desapareceu em meio à multidão que avançava,
todos eles usavam adagas e aceitaram-no sem questionar.
Deslizando pelo metal quente, Harry esforçou-se para se levantar e sabia que o único
caminho para fora era por entre eles.
- Estupefaça! - ele gritou, e Rony e Hermione se juntaram a ele: jatos de luz vermelha
voaram na direção dos duendes, e alguns caíram, mas outros avançaram, e Harry viu vários guardas
bruxos correndo pela esquina.
O dragão amarrado deixou escapar um rugido, e uma golfada de chama sobre os duendes;
os bruxos voaram, tontos, de volta pelo caminho do qual eles haviam vindo. E uma inspiração, ou
loucura, veio até Harry. Apontando sua varinha para os punhos que acorrentavam a fera ao solo, ele
gritou, “Relashio!”
Os punhos abriram-se com uma explosão alta.
- Por aqui! - Harry gritou, e continuou a lançar feitiços estuporantes nos duendes que
avançavam, ele correu rápido na direção do dragão cego.
- Harry... Harry... o que você está fazendo? - gritou Hermione.
- Sobe, sobe, vamos!
O dragão não tinha percebido que estava livre. O pé de Harry encontrou o Griphook de
suas pernas escondidas e puxou a si mesmo para cima das costas do bicho. As escamas eram duras
como aço, ele nem pareceu sentir isso. Ele esticou um braço; Hermione içou a si mesma para cima,
Rony escalou atrás deles e um segundo depois o dragão percebeu que estava desamarrado.
Com um rugido ele se levantou: Harry afundou em seus joelhos, agarrando o mais forte
que podia as escamas esfoliadas enquanto as asas se abriam, derrubando os duendes que gritavam
como pinos de boliche. E então ele levantou vôo. Harry, Rony e Hermione, agarrados em suas
costas, roçando o teto quando ele mergulhou através da passagem aberta, enquanto os duendes
perseguidores atiravam adagas que ricochetearam em seu flanco.
- Nós nunca vamos sair daqui, ele é muito grande! - Hermione gritou, mas o dragão abriu a
boca e cuspiu fogo novamente, queimando o túnel, cujo teto e chão racharam e se despedaçaram.
Pela simples força, o dragão encontrou seu caminho para fora. Os olhos de Harry estavam fechados
fortemente por causa da poeira e do calor: protegido pela quebra da rocha e pelos rugidos do dragão
ele apenas podia se agarrar às costas do animal, esperando ser derrubado a qualquer momento,
então ele escutou Hermione gritar “Defodio!”.
Ela estava ajudando o dragão a alargar a passagem, entalhando o teto no esforço de subir
em direção ao ar livre, para longe dos barulhentos e ruidosos duendes: Harry e Rony a copiaram,
derrubando o teto com outros feitiços. Eles passaram pelo lago subterrâneo e a grande besta
rastejante que rosnava, pareceu sentir a liberdade e o espaço á sua frente, atrás deles a passagem
estava cheia dos estragos do dragão, destroçados pela cauda, grandes pedaços de rocha, estalactites
gigantes quebradas, e o barulho dos duendes parecia ficar mais abafado, enquanto à frente, o fogo
do dragão mantinha o progresso da fuga.
E finalmente, por conta de seus constantes feitiços e da força bruta do dragão, eles
forçaram seu caminho para fora da passagem para dentro do hall de mármore. Duendes e bruxos
gritaram, correndo atrás de proteção, e finalmente o dragão tinha espaço para esticar suas asas.
Virando sua cabeça chifruda na direção do ar gelado lá de fora que ele podia sentir através da
entrada, levando Harry, Hermione e Rony, ainda agarrados às suas costas, ele forçou seu caminho
através das portas de metal, deixando-as presas e balançando pelas dobradiças, enquanto
cambaleava para dentro do Beco Diagonal, lançando-se para o céu aberto.

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