
A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidade de estar presentes, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho didino vÊem-se a face, e sua conversa é livre e pura. Esse é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convivio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais.
Harry poter está aguardando na rua dos Alferneiros. A Ordem da Fênix chegará em breve para trasferi-lo, em segurança, do endereço de sua familia trouxa, sem que Valdemort e seus seguidores saibam. A partir daí, o que Harry deverá fazer? Como será capaz de cumprir a missão, aparentemente impossível, que Dumbledore lhe deixou?
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O feitor de varinhas (Capítulo vinte e quatro)
Foi como cair em um pesadelo antigo; por um instante, Harry ajoelhou-se novamente ao
lado do corpo de Dumbledore ao pé da torre mais alta de Hogwarts, mas na realidade ele estava
encarando um pequeno corpo curvado na grama, perfurado pela faca prateada de Belatriz. A voz de
Harry ainda dizia "Dobby... Dobby..." mesmo sabendo que o elfo tinha ido para onde não se podia
chamá-lo de volta.
Após um minuto ou mais percebeu que eles tinham, no fim das contas, ido para o lugar
certo, pois lá estavam Gui e Fleur, Dino e Luna, vigiando ao redor, enquanto ele ajoelhava junto ao
elfo.
-Hermione - ele disse de repente. -Onde ela está?
-Rony a levou para dentro - disse Gui. -Ela vai ficar bem.
Harry olhou de volta para Dobby. Ele esticou uma mão e puxou a lâmina afiada do corpo
do elfo, então tirou seu próprio casaco e com ele cobriu Dobby como se fosse um cobertor.
O mar estava batendo contra as rochas em algum lugar próximo; Harry ouvia enquanto os
outros conversavam, discutindo assuntos sobre os quais não conseguia se interessar, fazendo
decisões. Dino carregava Griphook*, o duende machucado, Fleur corria com eles; agora Gui
realmente estava dando sugestões sobre enterrar o elfo. Então, olhou para baixo para o pequeno
corpo, e sua cicatriz formigou e queimou, e em uma parte de sua mente, viu como se fosse do lado
errado de um longo telescópio, viu Voldemort punindo aqueles que ele havia deixado para trás na
Mansão dos Malfoy. Sua raiva era terrível, e ainda o pesar de Harry por Dobby parecia diminuir
isso, de modo que virou uma tempestade distante que alcançou Harry, atravessando um vasto e
silencioso oceano.
-Eu quero fazer isso apropriadamente. - foram as primeiras palavras das quais Harry estava
totalmente consciente para falar. -Não por magia. Você tem uma pá?
E logo depois ele começou a trabalhar, sozinho, cavando o túmulo no local que Gui o
indiciou, no fim do jardim, entre os arbustos. Ele cavou com certa fúria, apreciando o trabalho
manual, exaltando o lado não-mágico disso, pois cada gota de seu suor e cada bolha parecia um
presente para o elfo que salvou suas vidas.
Sua cicatriz queimou, mas ele era mestre da dor, ele a sentiu, mas se livrou dela. Ele, ao
menos, havia aprendido a controlar, aprendido a fechar sua mente a Voldemort, a única coisa que
Dumbledore queria que aprendesse com Snape. Como Voldemort não tinha conseguido possuir
Harry enquanto ele estava consumido de pesar por Sirius, então seus pensamentos não poderiam
penetrar Harry agora enquanto ele lamentava por Dobby. Angústia, ao que parecia, mantinha
Voldemort longe... embora Dumbledore, claro, teria dito que era o amor.
Harry cavava cada vez mais fundo na dura e gelada terra, transformando seu pesar em
suor, negando a dor em sua cicatriz. Na escuridão, sem nada além do som de sua própria respiração
e o correr do mar lhe fazendo companhia, as coisas que aconteceram na casa dos Malfoy
retornaram, as coisas que tinha ouvido voltaram para ele, e o entendimento floriu na escuridão...
O movimento constante de seus braços acompanhou seus pensamentos. Hallows...
Horcruxes... Hallows... Horcruxes... Mas agora não mais queimando com aquela estranha e
obsessiva espera. Perda e medo tinham lhe retirado isso. Ele sentiu como se um tapa no rosto o
acordasse novamente.
Mais e mais fundo Harry afundou-se na cova, e sabia onde Voldemort tinha estado esta
noite, e quem ele tinha matado na cela mais alta de Nurmengard, e por que...
E ele pensou em Rabicho, morto por causa de um pequeno e inconsciente impulso de
misericórdia... Dumbledore havia previsto isto... Quão mais ele teria sabido?
Harry perdeu a noção do tempo. Ele só percebeu que a escuridão havia diminuído um
pouco quando Rony e Dino se juntaram a ele.
-Como está Hermione?
-Melhor. - disse Rony. - Fleur está cuidando dela.
Harry tinha a resposta pronta para quando lhe perguntassem por que ele simplesmente não
criou uma cova perfeita com sua varinha, mas não precisou dela. Eles pularam no buraco que ele
havia feito, com suas próprias pás e juntos trabalharam em silêncio até que o buraco parecesse
profundo o bastante.
Harry envolveu o elfo mais confortavelmente com seu casaco. Rony sentou-se na borda da
cova e tirou seus sapatos e meias, vestindo os pés descalços do elfo. Dino fez um chapéu de lã, que
Harry colocou cuidadosamente sobre a cabeça de Dobby, abafando suas orelhas de morcego.
-Nós deveríamos fechar seus olhos.
Harry não ouviu os outros chegando através da escuridão. Gui estava vestindo uma capa de
viagem, Fleur um largo avental branco, em cujo bolso havia uma garrafa do que Harry reconheceu
ser Esquelesce. Hermione estava envolvida em um vestido de baile emprestado, pálida e sem
conseguir ficar firme em seus pés; Rony colocou um braço em volta dela quando ela o alcançou.
Luna, que estava envolvida em um dos casacos de Fleur, abaixou-se e pôs seus dedos
carinhosamente sobre cada uma das pálpebras do elfo, deslizando-as sobre seu olhar vidrado.
-Pronto. - ela disse em voz macia. - Agora ele poderia estar dormindo.
Harry colocou o elfo na cova, arrumou seus pequenos membros de modo que ele parecia
estar cochilando, então subiu e olhou pela última vez para seu pequeno corpo. Ele forçou a si
mesmo a não perder o controle enquanto lembrava-se do funeral de Dumbledore, e as fileiras e mais
fileiras de cadeiras de ouro, e o Ministro da Magia na fileira da frente, e a recitação dos feitos de
Dumbledore, a magnitude da tumba branca de mármore. Ele sentiu que Dobby merecia um funeral
tão grandioso, enquanto o elfo jazia entre arbustos em um buraco rudemente cavado.
-Eu acho que a gente deveria dizer alguma coisa. - disse Luna. - Eu falo primeiro, posso?
E como todos olharam-na, ela se voltou ao elfo morto no fundo do túmulo.
-Muito obrigada Dobby, por me resgatar daquela cela. É tão injusto que você teve que
morrer enquanto foi tão bom e corajoso. Eu vou sempre lembrar o que você fez por nós. Espero que
você esteja feliz agora.
Ela se virou e olhou com expectativa para Rony, que limpou sua garganta e disse em uma
voz densa:
-É... obrigado Dobby.
-Obrigado. - murmurou Dino.
Harry engoliu.
-Adeus Dobby. - ele disse. Isso foi tudo o que conseguiu dizer, mas Luna já havia falado
tudo por ele. Gui levantou sua varinha, e a pilha de terra ao lado da cova levantou no ar e caiu sobre
ela, um pequeno, avermelhado monte.
-Vocês se importam se eu ficar aqui mais um momento? - ele perguntou aos outros.
Eles murmuraram palavras que ele não compreendeu; ele sentiu gentis tapinhas em suas
costas, e então todos voltaram para o chalé, deixando Harry sozinho junto ao elfo.
Ele olhou ao redor: havia várias pedras grandes e brancas, alisadas pelo mar, marcando a
beirada dos canteiros. Ele pegou uma das maiores e a colocou, como se fosse um travesseiro, sobre
o lugar em que a cabeça de Dobby agora descansava. Então, colocou a mão em seu bolso para pegar
uma varinha. Havia duas lá. Ele havia se esquecido, perdido a noção; não conseguia lembrar agora
de quem eram aquelas varinhas; parecia lembrar-se de tirá-las das mãos de alguém. Ele escolheu a
mais curta das duas, que sentiu amigavelmente em sua mão, e apontou para a rocha.
Vagarosamente, sob suas instruções murmuradas, cortes profundos apareceram na
superfície da rocha. Ele sabia que Hermione poderia ter feito isso mais nitidamente, e
provavelmente mais rápido, mas queria marcar o lugar assim como havia querido cavar a cova.
Quando Harry levantou, a pedra dizia:
AQUI JAZ DOBBY, UM ELFO LIVRE.
Ele olhou para seu trabalho manual por alguns segundos, então se foi embora, sua cicatriz
ainda formigando um pouco, e sua mente cheia daquelas coisas que pensou na cova, idéias que
tinham tomado forma na escuridão, idéias ao mesmo tempo fascinantes e terríveis.
Eles estavam todos sentados na sala de estar quando ele entrou no pequeno hall, suas
atenções focadas em Gui, que estava falando. A sala estava coloridamente iluminada, linda, com um
pequeno fogo e madeira queimando com brilho na lareira. Harry não queria derrubar lama no
carpete, então ficou na porta, escutando.
-... sorte que a Gina está de férias. Se ela tivesse em Hogwarts eles teriam levado-a antes
que conseguíssemos alcançá-la. Agora sabemos que ela também está a salvo.
Ele olhou ao redor e viu Harry parado ali.
-Eu tirei todos da Toca. - ele explicou. - Os levei para a casa da Muriel. Os Comensais da
Morte sabem que Rony está com você, eles podem atacar a família - não se desculpe. - ele disse ao
ver a expressão de Harry. - Foi sempre uma questão de tempo, papai tem dito isso há meses. Nós
somos a maior família traidora de sangue que há.
-Como eles estão protegidos? - perguntou Harry.
-Feitiço Fidelius. Papai é o Guardião do Segredo. E o fizemos neste chalé também; eu sou
o Guardião do Segredo daqui. Nenhum de nós pode ir trabalhar, mas isso é dificilmente a coisa
mais importante agora. Uma vez que Olivaras e Griphook estão suficientemente bem, nós vamos
levá-los para a casa de Muriel também. Não há muitos quartos aqui, mas ela tem suficiente. As
pernas de Griphook estão se recuperando. Fleur lhe deu Esquelesce – provavelmente poderíamos
movê-los em uma hora ou-
-Não. - disse Harry e Gui olhou surpreso. - Eu preciso dos dois aqui. Eu preciso falar com
eles. É importante.
Ele ouviu a autoridade de sua própria voz, a convicção, a voz do propósito em que ele veio
a ele enquanto cavava a cova de Dobby. Os rostos de todos haviam se voltado para ele parecendo
perplexos.
-Vou tomar banho. - Harry disse para Gui, olhando para suas mãos ainda sujas de lama e
do sangue de Dobby. - Então eu tenho de ir vê-los, imediatamente.
Ele entrou na pequena cozinha, indo até a bacia abaixo de uma janela com vista para o
mar. As primeiras luzes do dia estavam aparecendo no horizonte, rosa-pérola e levemente dourado,
enquanto ele tomava banho, novamente seguindo o trilho de pensamentos que ocorreram-lhe no
jardim escuro...
Dobby nunca poderia lhes dizer quem o havia enviado para a cela, mas Harry sabia o que
ele havia visto. Um olho azul penetrante havia olhado do fragmento do espelho, e então a ajuda
havia chegado. Ajuda sempre será enviada em Hogwarts para aqueles que pedirem por ela.
Harry secou suas mãos, impermeável à beleza da cena do lado de fora da janela e aos
murmúrios dos outros na sala de estar. Ele olhou para o oceano e sentiu mais perto, este amanhecer,
do que nunca antes, mais perto do coração de tudo aquilo.
E ainda sua cicatriz formigava, e sabia que Voldemort estava chegando lá também. Harry
entendia, e ainda assim não entendia. Seu instinto estava lhe dizendo uma coisa, seu cérebro lhe
dizia outra. O Dumbledore na cabeça de Harry sorriu, examinando Harry com seus dedos juntos
como em oração.
Você deu a Rony o apagueiro... Você o entendeu... Você lhe deu uma maneira de voltar...
E você entendeu Rabicho também... Você sabia que havia um pouco de arrependimento
nele, em algum lugar...
E se você soube deles... O que você sabia sobre mim, Dumbledore?
Deveria eu saber, mas não procurar? Você sabia o quanto eu sentia isso? Por isso você
fez disso tão difícil? Pra que eu tivesse tempo de entender?
Harry permaneceu parado, olhos vidrados, olhando o local em que um brilhante raio
dourado de sol se levantava no horizonte. Então olhou para suas mãos limpas e ficou
momentaneamente surpreso ao ver a roupa que segurava. Ele as largou e retornou à sala, e enquanto
o fazia, sentiu sua cicatriz pulsar ferozmente, e então um clarão atravessou sua mente, rápido como
o reflexo de uma libélula na água, o esboço de uma construção que ele conhecia extremamente bem.
Gui e Fleur estavam parados aos pés das escadas.
-Eu preciso falar com Griphook e Olivaras. - disse Harry.
-Não. - disse Fleur. - Você vai ter que esperar, 'Arry. Ambos estão muito cansados-
-Desculpe-me, - ele disse sem hesitar. - mas isso não pode esperar, eu preciso falar com
eles agora. Em particular - e separadamente. É urgente.
-Harry, o que está acontecendo? - perguntou Gui. - Você chegou aqui com um elfo
doméstico morto e um duende semi-consciente, Hermione parece ter sido torturada e Rony se
recusa a me dizer qualquer coisa -
-Nós não podemos dizer o que estamos fazendo. - disse Harry. - Você está na Ordem, Gui,
você sabe que Dumbledore nos deixou uma missão. Não devemos falar sobre isso com mais
ninguém.
Fleur fez um barulho impaciente, mas Gui não olhou para ela; ele estava encarando Harry.
Seu rosto cheio de profundas cicatrizes era difícil de ler. Finalmente, Gui disse:
-Tudo bem. Com quem você quer falar primeiro?
Harry hesitou. Ele sabia o que significava sua decisão. Não havia quase nenhum tempo
sobrando; agora era o momento de decidir: Horcruxes ou Hallows?
-Griphook. - disse Harry. - Vou falar com Griphook primeiro.
Seu coração acelerou como se ele estivesse correndo o mais rápido possível e estivesse
agora passado por um enorme obstáculo.
-Por aqui, então. - disse Gui, mostrando o caminho.
Harry havia subido vários degraus antes de parar e olhar para trás.
-Eu preciso de vocês dois também! - ele chamou por Rony e Hermione, que estavam
recostados na porta da sala de estar.
Os dois se moveram para a luz, parecendo estranhamente aliviados.
-Como você está? - Harry perguntou a Hermione. - Você foi incrível - inventando aquela
história quando ela estava machucando você daquela maneira -
Hermione deu um sorriso fraco quando Rony lhe abraçou com um braço só.
-O que nós estamos fazendo agora, Harry? - ele perguntou.
-Vocês vão ver. Vamos.
Harry, Rony e Hermione seguiram Gui escada acima, até um pequeno corredor. Havia três
portas.
-Aqui dentro. - disse Gui, abrindo a porta do quarto dele e de Fleur, que também tinha
vista para o mar, agora tingido de dourado com o nascer do sol. Harry foi até a janela, deu as costas
para a vista espetacular, e aguardou com braços cruzados, sua cicatriz formigando. Hermione pegou
a cadeira ao lado da penteadeira; Rony sentou no braço desta.
Gui reapareceu, carregando o pequeno duende, colocando-o cuidadosamente na cama.
Griphook disse obrigado e Gui saiu, fechando a porta atrás dele.
-Desculpe-me por lhe tirar da cama. - disse Harry. - Como estão suas pernas?
-Doloridas. - disse o duende. - Mas remendando.
Ele estava ainda segurando a espada de Gryffindor, e tinha um olhar estranho: meio
truculento, meio intrigado. Harry notou a pele amarelada do duende, seus longos dedos finos, seus
olhos negros. Fleur havia tirado seus sapatos: seus grandes pés estavam sujos. Ele era mais alto que
um elfo-doméstico, mas não muito. Sua cabeça abobadada era muito maior que a de um humano.
-Você provavelmente não se lembra - Harry começou.
- ...que eu fui o duende que lhe mostrou seu cofre, a primeira vez que você visitou
Gringotes? - disse Griphook. - Eu me lembro, Harry Potter. Mesmo entre os duendes você é muito
famoso.
Harry e o duende olharam um para o outro, se avaliando. A cicatriz de Harry ainda
formigava. Ele queria acabar com essa entrevista com Griphook rápido, e ao mesmo tempo estava
com medo de dar um passo em falso. Enquanto tentava decidir a melhor maneira de fazer seu
pedido, o duende quebrou o silêncio.
-Você enterrou o elfo. - ele disse, soando inesperadamente rancoroso. - Eu assisti da janela
do quarto ao lado.
-Sim. - disse Harry.
-Você é um bruxo diferente, Harry Potter.
-De que maneira? - perguntou Harry, esfregando sua cicatriz.
-Você cavou o túmulo.
-E daí?
Griphook não respondeu. Harry preferiu pensar que ele estava sendo censurado por agir
como um trouxa, mas não importava a ele se Griphook aprovava a cova de Dobby ou não. Ele se
preparou para o ataque.
-Griphook, eu preciso lhe perguntar -
-Você também resgatou um duende.
-O quê?
-Você me trouxe para cá. Salvou-me.
-Bem, devo achar que você não está arrependido? - disse Harry, um pouco impaciente.
-Não, Harry Potter. - disse Griphook, e com um dedo torceu a negra e fina barba em seu
queixo, - mas você é um bruxo muito estranho.
-Certo. - disse Harry. - Bem, eu preciso de sua ajuda, Griphook, e você pode fazer isso.
O duende não fez nenhum sinal de encorajamento, mas continuou a encarar Harry como se
ele nunca tivesse visto algo como ele.
-Eu preciso arrombar um cofre do Gringotes.
Harry não pretendia dizer dessa maneira: as palavras saíram dele em um tiro de dor em sua
cicatriz de raio e ele viu, novamente, um esboço de Hogwarts. Ele fechou sua mente com firmeza.
Ele precisava lidar com Griphook primeiro. Rony e Hermione estavam lhe encarando como se ele
tivesse ficado louco.
-Harry... - disse Hermione, mas ela foi cortada por Griphook.
-Arrombar um cofre de Gringotes? - repetiu o duende, resmungando um pouco enquanto
mudava sua posição na cama. - Isso é impossível.
-Não, não é. Rony o contradisse. - Isso já foi feito antes.
-Sim. - disse Harry. - No mesmo dia que eu lhe conheci, Griphook. Meu aniversário, há
sete anos.
-O cofre em questão estava vazio naquele tempo. - disse o duende, e Harry entendeu que
mesmo que Griphook tivesse deixado Gringotes, ele estava ofendido ante a idéia de suas defesas
terem sido quebradas. - Sua proteção era mínima.
-Bem, o cofre que nós precisamos não está vazio, e eu acredito que sua proteção seja
bastante poderosa, - disse Harry. - Pertence aos Lestrange.
Ele viu Hermione e Rony se olharem, surpresos, mas haveria tempo o suficiente para
explicar depois que Griphook desse sua resposta.
-Você não tem nenhuma chance. - disse Griphook. "Nenhuma chance mesmo. Se você
busca um tesouro em nosso chão, um tesouro que nunca foi seu -"
- "Ladrão, você foi avisado, cuidado” - sim, eu sei, eu me lembro. - disse Harry. - Mas eu
não estou tentando roubar nenhum tesouro, não estou tentando pegar nada para ganho pessoal. Você
pode acreditar nisso?
O duende olhou transversalmente para Harry, e a cicatriz em forma de raio na testa de
Harry formigou, mas ele a ignorou se recusando a conhecer sua dor ou seu convite.
-Se há um bruxo eu acredito que não procura ganho pessoal. - disse Griphook finalmente, -
seria você, Harry Potter. Duendes e elfos não estão acostumados à proteção ou ao respeito que você
mostrou essa noite. Não através de portadores de varinhas.
-Portadores de varinhas. - repetiu Harry: a frase pareceu estranha aos seus ouvidos assim
que sua cicatriz formigou, quando Voldemort virou seus pensamentos para o norte, e enquanto
Harry ardia por perguntar a Olivaras no quarto ao lado.
-O direito de carregar uma varinha. - disse o duende, quieto. - tem sido há muito
contestado entre magos e duendes.
-Bem, duendes podem fazer mágica sem varinhas. - disse Rony.
-Não é uma questão material! Bruxos se recusam a compartilhar os segredos de usar
varinha com outros seres mágicos, eles nos negam a possibilidade de estender nossos poderes!
-Bem, duendes também não compartilham sua mágica. - disse Rony. - Vocês não nos
ensinam a fazer espadas e armaduras como vocês fazem. Duendes sabem trabalhar o metal de uma
maneira que bruxos nunca puderam –
-Não importa. - disse Harry, notando a cor de Griphhok. - Isso não é sobre bruxos contra
duendes ou nenhum outro tipo de criaturas mágicas -
Griphook deu uma risada sombria.
-Mas é, é precisamente isso! Enquanto o Lorde das Trevas fica ainda mais poderoso, sua
raça fica ainda mais firme sobre a minha. Gringotes caindo sobre as regras dos bruxos, elfosdomésticos
são massacrados, e quem entre os portadores de varinhas protesta?
-Nós protestamos! - disse Hermione. Ela sentou-se ereta, os olhos brilhando. - Nós
protestamos! E eu sou caçada tanto quanto duendes ou elfos, Griphook! Eu sou uma sangue-ruim!
-Não se chame - Rony murmurou.
-Por que não? - disse Hermione. – sangue-ruim, e orgulhosa disso! Eu não tenho nenhuma
posição mais elevada que você tem nessa nova ordem, Griphook! Fui eu que eles escolheram
torturar, na casa dos Malfoy!
Enquanto ela falava, puxou de lado gola do vestido para mostrar o corte fino que Belatriz
fizera, vermelho escarlate, em sua garganta.
-Você sabia que foi Harry quem libertou Dobby? - ela perguntou. - Você sabia que nós
tentamos a liberdade dos elfos por anos? - (Rony se mexeu desconfortável no braço da cadeira de
Hermione.) - Você não pode querer mais do que nós que Você-Sabe-Quem seja derrotado,
Griphook!
O duende olhou para Hermione com a mesma curiosidade que mostrou em Harry.
-O que vocês procuram no cofre dos Lastrange? - ele perguntou abruptamente. - A espada
que tem lá é falsa. Essa é a verdadeira.
Ele olhou de um para o outro deles.
-Eu acho que você já sabe disso. Você me pediu para guardar para você lá.
-Mas a espada falsa não é a única coisa no cofre, não é? - perguntou Harry.
-Talvez você tenha visto outras coisas lá?
Seu coração estava batendo mais rápido do que nunca. Ele redobrou seus esforços para
ignorar sua cicatriz pulsando.
O duende torceu sua barba nos dedos novamente.
-É contra nosso código falar dos segredos de Gringotes. Nós somos guardiões de tesouros
fabulosos. Nós temos um dever com os objetos colocados aos nossos cuidados, que foram, tão
usualmente, tocados por nossos dedos.
O duende segurou a espada, e seus olhos passaram de Harry para Hermione e depois para
Rony, e então retornaram.
-Tão jovens, - ele disse finalmente. - para estar lutando tanto.
-Você vai nos ajudar? - disse Harry. - Nós não temos esperanças de invadir sem a ajuda de
um duende. Você é a nossa única chance.
-Eu devo... pensar sobre isso. - disse Griphook, exasperante.
-Mas... - Rony começou, com raiva; Hermione o sacudiu nas pernas.
-Obrigado. - disse Harry.
O duende balançou sua cabeça em reconhecimento, então flexionou suas pernas curtas.
-Eu acho. - ele disse, se esticando com ostentação na cama de Gui e Fleur. - que o
Esquelesce terminou seu trabalho. Talvez eu possa dormir enfim. Perdoem-me...
-Sim, claro. - disse Harry, mas antes de sair do quarto ele pegou a espada de Gryffindor ao
lado do duende. Griphook não protestou, mas Harry pensou ter visto ressentimento nos olhos do
duende quando fechou a porta atrás dele.
-Homenzinho estúpido. - sussurrou Rony. Ele está gostando de nos ver esperar.
-Harry. - suspirou Hermione, puxando os dois da porta para o meio do corredor ainda
escuro, - Você está dizendo o que eu acho que você está dizendo? Você está dizendo que há um
Horcruxe no cofre dos Lestrange?
-Sim. - disse Harry. - Belatriz ficou apavorada quando achou que estivemos lá. Por quê? O
que ela pensou que nós vimos? O que mais ela pensou que nós pegamos? Algo que ela ficou
petrificada em pensar que Você-Sabe-Quem descobriria.
-Mas eu pensei que estávamos procurando por lugares em que Você-Sabe-Quem esteve,
lugares em que ele fez algo importante? - disse Rony, parecendo confuso. - Ele já esteve dentro do
cofre dos Lestrange?
-Eu não sei se ele já esteve ao menos dentro de Gringotes. - disse Harry. - Ele nunca teve
ouro quando era jovem, pois ninguém lhe deixou nada. Ele teria visto o banco do lado de fora,
entretanto, na primeira vez em que ele esteve no Beco Diagonal.
A cicatriz de Harry ardeu, mas ele ignorou; ele queria que Rony e Hermione entendessem
sobre Gringotes antes de falarem com Olivaras.
-Eu acho que ele teria invejado qualquer um que tivesse um cofre em Gringotes. Eu acho
que ele deve ter visto isso como um símbolo real de pertencer à comunidade bruxa. E não esqueça,
ele confiava em Belatriz e seu marido. Eles foram seus servos mais fiéis antes de ele cair, e eles o
procuraram quando ele sumiu. Ele disse isso na noite que voltou, eu o ouvi.
Harry esfregou sua cicatriz.
-Não acho que ele tenha dito a Belatriz que era um Horcruxe, entretanto. Ele nunca disse a
Lúcio Malfoy a verdade sobre o diário. Ele provavelmente a disse que era um tesouro valioso que
possuía e a pediu para guardar em seu cofre. O lugar mais seguro no mundo para algo que se queira
esconder, Hagrid me disse... exceto por Hogwarts.
Quando Harry terminou de falar, Rony balançou sua cabeça.
-Você realmente o entende.
-Partes dele. - disse Harry. Partes... Eu só queria entender Dumbledore também. Mas
veremos. Vamos - Olivaras agora.
Rony e Hermione pareciam perplexos, mas impressionados enquanto o seguiam no
pequeno corredor e bateram na porta do lado oposto ao quarto de Gui e Fleur. Um fraco
-Entre! - respondeu.
O feitor de varinhas estava deitado em um beliche, distante da janela. Ele havia sido preso
na cela por mais de um ano, e torturado, Harry sabia, pelo menos uma vez. Ele estava magro e
enfraquecido, os ossos de sua face projetando sob sua pele amarelada. Seus grandes olhos
acinzentados pareciam perdidos com olheiras. Suas mãos que repousavam no cobertor poderiam ter
pertencido a um esqueleto. Harry sentou na cama vazia, ao lado de Rony e Hermione. O sol
nascente não estava visível lá. O quarto tinha vista para o topo do jardim e a recém cavada cova.
-Sr. Olivaras, desculpe por lhe perturbar. - disse Harry.
-Meu querido rapaz. - a voz de Olivaras era febril. - Você nos resgatou, eu achei que
morreríamos naquele lugar, eu nunca poderei lhe agradecer... nunca poderei lhe agradecer... o
suficiente.
-Nós ficamos felizes em fazê-lo.
A cicatriz de Harry formigou. Ele sabia, ele tinha certeza, de que não havia quase nenhum
tempo restante para impedir Voldemort de seu objetivo, ou pelo menos tentar. Ele sentiu um estado
de pânico... Ainda assim, ele havia feito sua escolha quando decidiu falar com Griphook primeiro.
Fingindo uma calma que ele não sentia, ele agarrou o pacotinho ao redor de seu pescoço e retirou as
duas metades de sua varinha quebrada.
-Sr. Olivaras, eu preciso da sua ajuda.
-Qualquer coisa. Qualquer coisa.- disse o feitor de varinhas, fracamente.
-Você pode consertar isso? É possível?
Olivaras levantou uma mão trêmula, e Harry colocou os dois pedaços mal-conectados em
sua palma.
-Azevinho e pena de fênix. - disse Olivaras com a voz trêmula. - Vinte e oito centímetros.
Boa e maleável.
-Sim. - disse Harry. - Você pode --?
-Não. - sussurrou Olivaras. - Sinto muito, muito mesmo, mas uma varinha que sofreu este
grau de dano não pode ser reparada de nenhuma maneira que eu saiba.
Harry já esperava ouvir isso, mas foi um baque mesmo assim. Ele pegou as metades da
varinha e as colocou no pacotinho ao redor de seu pescoço novamente. Olivaras olhava para o lugar
onde a varinha quebrada esteve, e não desviou o olhar até Harry tirar de seu bolso as duas varinhas
que ele trouxe da casa dos Malfoy.
-Você pode identificar estas? - perguntou Harry.
O feitor de varinhas pegou a primeira das varinhas e segurou perto de seus olhos cansados,
rodando entre seus dedos, flexionando-a levemente.
-Noz e parte de coração de dragão. - ele disse. - trinta e dois vírgula quatro centímetros.
Inflexível. Essa varinha pertenceu a Belatriz Lestrange.
-E esta?
Olivaras examinou da mesma forma.
-Espinheiro e pêlo de unicórnio. Vinte e cinco centímetros exatamente. Razoavelmente
flexível. Essa era a varinha de Draco Malfoy.
-Era? - repetiu Harry. - Não é mais?
-Talvez não. Se você a pegou -
-Eu a peguei -
-Então pode ser sua. Claro, a maneira que pegou importa. Muito mais, depende da varinha
por si própria. Geralmente, entretanto, onde uma varinha tenha sido vencida, sua lealdade vai
mudar.
Houve um silêncio no quarto, exceto pelo barulho distante do mar.
-Você fala das varinhas como se elas tivessem sentimentos. - disse Harry. - Como se elas
pudessem pensar por si próprias.
-A varinha escolhe o bruxo. - disse Olivaras. - Isso sempre ficou claro pra nós que
estudamos a arte das varinhas.
-Uma pessoa pode ainda usar uma varinha que não a escolheu, entretanto? - perguntou
Harry.
-Ah sim, se você é bruxo de alguma maneira, poderá canalizar sua mágica por quase
qualquer instrumento. Os melhores resultados, entretanto, virão sempre da maior e mais forte
afinidade entre mago e varinha. Essas conexões são complexas. Uma atração inicial, então uma
jornada mútua de experiência, a varinha aprendendo com o mago, o mago aprendendo com a
varinha.
-O mar jorrava para frente e para trás; era um som melancólico. - Eu peguei essa varinha
de Draco Malfoy à força. - disse Harry. - Posso usá-la com segurança?
-Eu acho que sim. Leis sutis governam a posse de uma varinha, mas a varinha conquistada
geralmente rende sua vontade ao seu novo mestre.
-Então eu deveria usar esta? - disse Rony, puxando a varinha de Rabicho de seu bolso e
entregando a Olivaras.
-Castanheira e corda de coração de dragão. Vinte e quatro centímetros e meio. Frágil. Eu
fui forçado a fazer esta logo após meu seqüestro, para Pedro Pettigrew. Sim, se você a ganhou, é
muito mais provável que obedeça suas ordens, e o faça bem, que qualquer outra varinha.
-E isso é verdade para todas as varinhas? - perguntou Harry.
-Eu acho que sim. - replicou Olivaras, seus olhos protuberantes no rosto de Harry.
-Você faz perguntas profundas, Sr. Potter. A arte das varinhas é um braço complexo e
misterioso da magia.
-Então, não é necessário matar o antigo dono para tomar posse da varinha? -perguntou
Harry.
Olivaras engoliu.
-Necessário? Não, eu não deveria dizer que é necessário matar.
-Há lendas, entretanto. - disse Harry, e seu coração acelerou e a dor na cicatriz ficava mais
intensa; ele tinha certeza que Voldemort decidiu pôr suas idéias em ação. -Lendas sobre uma
varinha - ou varinhas - que são passadas de mão para mão por assassinato.
Olivaras ficou pálido. Contra o travesseiro branco como a neve, ele estava cinza claro, e
seus olhos enormes, vermelhos e salientes com um olhar de medo.
-Apenas uma varinha, eu acho. - ele sussurrou.
-E Você-Sabe-Quem está interessado nela, não está? - perguntou Harry.
-Eu - como? - resmungou Olivaras, e ele olhou fascinado para Rony e Hermione. Como
você sabe disso?
-Ele queria que você dissesse a ele como superar a conexão entre nossas varinhas. -disse
Harry.
Olivaras parecia aterrorizado.
-Ele me torturou, você deve entender isso! A Maldição Cruciatus, eu - eu não tive escolha
a não ser lhe dizer o que eu sabia o que eu achava!
-Eu entendo. - disse Harry. - Você disse a ele sobre as penas gêmeas? Você disse que ele
tinha simplesmente que pegar emprestada a varinha de outro bruxo?
Olivaras parecia horrorizado, silenciado, pelo tanto que Harry sabia. Ele assentiu
lentamente.
-Mas não funcionou. - Harry continuou. - A minha ainda derrotou a varinha emprestada.
Você sabe o porquê disso?
Olivaras balançou a cabeça lentamente como tinha assentido.
-Eu nunca... tinha ouvido falar de algo assim. Sua varinha se comportou de forma única
aquela noite. A conexão entre dois miolos da varinha é muito rara, e ainda porque sua varinha iria
quebrar a varinha emprestada, eu não sei...
-Nós estávamos falando da outra varinha, a varinha que muda de mãos por assassinato.
Quando Você-Sabe-Quem percebeu que a minha varinha havia feito algo estranho, ele voltou e lhe
perguntou sobre a outra varinha, não foi?
-Como você sabe disso?
Harry não respondeu.
-Sim, ele perguntou. - sussurrou Olivaras. - Ele queria saber de tudo que eu pudesse lhe
dizer sobre a varinha conhecida como a Varinha da Morte, a Varinha do Destino, ou a Varinha
Mestra.
Harry trocou olhares com Hermione. Ela parecia lívida.
-O Lorde das Trevas. - disse Olivaras em uma voz abafada e amedrontada, - sempre esteve
feliz com a varinha que o fiz - sim e com pena de fênix, trinta e quatro centímetros. - até ele
descobrir a conexão entre as varinhas gêmeas. Agora ele procura outra varinha mais poderosa,
como única maneira para derrotar a sua.
-Mas ele vai saber logo, se já não sabe, que a minha está quebrada e sem conserto. - disse
Harry calmamente.
-Não! - disse Hermione, parecendo aterrorizada. - Ele não pode saber disso, Harry, como
ele poderia...?
-Priori Incantatem. - disse Harry. - Nós deixamos sua varinha e a varinha de abrunheiro
na casa dos Malfoy, Hermione. Se eles examinarem direito, poderão recriar os últimos feitiços
lançados, eles verão que a sua quebrou a minha, verão que você tentou e não conseguiu consertar, e
eles irão perceber que temos usado a abrunheiro desde então.
O pouco de cor que ela tinha adquirido desde que eles chegaram esvaiu de seu rosto. Rony
deu a Harry um olhar repreensivo e disse:
-Não vamos nos preocupar com isso agora...
Mas Sr. Olivaras interveio.
-O Lorde das Trevas não procura mais a Varinha Mestra somente para sua destruição, Sr.
Potter. Ele está determinado a possuí-la porque ele acredita que isso o fará invulnerável de verdade.
-E o fará?
-O dono da Varinha Mestra deve sempre temer ataque. - disse Olivaras. - Mas a idéia de o
Lorde das Trevas sobre a posse da Varinha da Morte é, eu devo admitir... formidável.
Harry de repente se lembrou de quão incerto, quando eles se conheceram, do quanto ele
gostava do Olivaras. Ainda agora, tendo sido torturado e aprisionado por Voldemort, a idéia de o
Bruxo das Trevas em posse dessa varinha parecia fasciná-lo tanto quando causar repulsa.
-Você... você realmente acha que a varinha existe, Sr. Olivaras? - perguntou Hermione.
-Ah sim. - disse Olivaras. - Sim, é perfeitamente possível rastrear o curso da varinha pela
história. Há intervalos, claro, longos intervalos, onde some de vista, temporariamente perdida ou
escondida; mas ela sempre ressurge. Tem algumas características que a identifica, e aqueles que
entendem a arte das varinhas a reconhecem. Há escritos, alguns deles obscuros, que eu e outros
feitores de varinhas fazemos do nosso negócio estudá-la. Eles têm o anel da autenticidade.
-Então você - você não acha que pode ser conto-de-fadas ou um mito? - perguntou
Hermione, esperançosa.
-Não. - disse Olivaras. - Se precisa passar por assassinato, eu não sei. Sua história é
sangrenta, mas pode ser simplesmente com o fato de ser tão desejoso objeto, e estimula tal paixão
em bruxos. Imensamente poderosa e perigosa nas mãos erradas, e um objeto de incrível fascinação
para todos nós que estudamos o poder das varinhas.
-Sr. Olivaras. - disse Harry, - você disse a Você-Sabe-Quem que Gregorovitch estava com
a Varinha Mestra, não disse?
Olivaras ficou, se possível, mais pálido ainda. Ele parecia fantasmagórico enquanto
engolia.
-Mas como - como você --?
-Não importa como eu sei disso. - disse Harry, fechando seus olhos momentaneamente
enquanto sua cicatriz queimava e ele viu, por alguns segundos, a visão da rua principal de
Hogsmeade, ainda escura, porque ficava muito longe ao norte. - Você disse a Você-Sabe-Quem que
Gregorovitch estava com a varinha?
-Isso era um rumor. - sussurrou Olivaras. - Um rumor, anos e anos atrás, muito antes de
vocês nascerem eu acredito que o próprio Gregorovitch o iniciou. Você pode imaginar como isso ia
ser bom pros negócios; que ele estava estudando e duplicando as qualidades da Varinha Mestra!
-Sim, eu posso imaginar. - disse Harry. Ele levantou. - Sr. Olivaras, uma última coisa, e
então nós lhe deixaremos descansar. O que você sabe sobre as Relíquias da Morte?
-As - as o quê? - perguntou o fabricante de varinhas, parecendo perplexo.
-As Relíquias da Morte.
-Temo não saber do que você está falando. Isso tem algo a ver com varinhas?
Harry olhou para o rosto afundado e acreditou que Olivaras não estivesse atuando. Ele não
sabia sobre as Insígnias.
-Obrigado. - disse Harry. - Muito obrigado. Nós lhe deixaremos descansar agora.
Olivaras pareceu chocado.
-Ele estava me torturando! - ele arfou. - A Maldição Cruciatus... Você não faz idéia...
-Eu faço. - disse Harry. - Realmente faço. Por favor, descanse um pouco. Obrigado por me
dizer tudo isso.
Ele liderou Rony e Hermione escada abaixo. Harry teve vislumbres e Gui, Fleur, Luna e
Dino sentados na mesa da cozinha, com xícaras de chá em frente a eles. Eles todos olharam para
Harry quando ele apareceu na entrada, mas ele apenas os cumprimentou e seguiu para o jardim,
com Rony e Hermione atrás dele. O monte avermelhado de terra que cobria Dobby jazia mais à
frente, e Harry andou até ele, com a dor em sua cabeça crescendo mais e mais forte. Era um enorme
esforço agora se fechar às visões que estavam se forçando sobre ele, mas ele sabia que deveria
resistir apenas mais um pouquinho. Ele iria render-se logo, porque ele precisava saber se sua teoria
estava certa. Ele deveria fazer apenas mais um curto esforço, para que pudesse explicar a Rony e
Hermione.
-Gregorovitch tinha a Varinha Mestra há muito tempo atrás. - ele disse. -Eu vi Você-Sabe-
Quem tentando achá-lo. Quando ele o rastreou, descobriu que Gregorovitch não a tinha mais: foi
roubada dele por Grindelwald. Como Grindelwald descobriu que Gregorovitch a tinha, eu não sei -
mas se Gregorovitch foi estúpido o suficiente para espalhar o rumor, não deve ter sido difícil.
Voldemort estava nos portões de Hogwarts; Harry podia vê-lo parado lá, e via também
lâmpada acendendo no início do nascer do sol, chegando cada vez mais perto.
-E Grindelwald usou a Varinha Mestra para ficar poderoso. E nesse nível de poder, quando
Dumbledore descobriu que ele era o único que podia o deter, ele duelou com Grindelwald e o
derrotou, e ele pegou a Varinha Mestra.
-Dumbledore estava com a Varinha Mestra? - disse Rony. - Mas então - onde está agora?
-Em Hogwarts. - disse Harry, lutando para permanecer com eles no jardim.
-Mas então, vamos lá! - disse Rony urgentemente. - Harry, vamos lá pegá-la antes que ele
pegue!
-É tarde demais para isso. - disse Harry. Ele não pode se conter, mas sacudiu a cabeça,
tentando resistir. - Ele sabe que está lá. Ele está lá agora.
-Harry! - Rony disse furiosamente. - Há quanto tempo você sabe disso – por que estivemos
perdendo tempo? Por que você falou com Griphook primeiro? Nós poderíamos ter ido - nós ainda
podemos ir -
-Não. - disse Harry, e ele caiu de joelhos na grama. - Hermione está certa. Dumbledore não
quis que eu a tivesse. Ele não queria que eu a pegasse. Ele queria que eu fosse atrás dos Horcruxes.
-A varinha imbatível, Harry! - murmurou Rony.
-Eu não devo... Eu devo ir atrás dos Horcruxes...
E agora tudo estava gelado e escuro: o sol quase não estava visível por trás do horizonte
enquanto ele andava ao lado de Snape, nos jardins em direção ao lago.
-Eu devo me juntar a você no castelo em pouco tempo. - ele disse em sua alta e fria voz. -
Deixe-me agora.
Snape acenou e saiu rumo ao pátio, sua capa esvoaçando atrás dele. Harry andou devagar,
esperando a figura de Snape desaparecer. Ele não deixaria Snape, nem ninguém mais, ver onde ele
estava indo. Mas não havia luzes nas janelas do castelo, e ele podia se esconder... e em um segundo
ele lançou sobre si mesmo o feitiço da Desilusão que o escondeu até mesmo de seus próprios olhos.
E ele continuou andando, ao redor da margem do lago, pegando o caminho do amado
castelo, seu primeiro reinado, seu direito de nascença...
E ali estava, ao lado do lago, refletida nas águas escuras. A tumba de mármore branca, uma
mancha desnecessária no cenário familiar. Ele sentiu novamente uma corrida de controlada euforia,
aquele emocionante sentido de propósito na destruição. Ele levantou a velha varinha: Quão
apropriado isso seria para um último grande ato.
A tumba se rompeu aberta da cabeça aos pés. A figura embrulhada era tão longa e magra
como havia sido em vida. Ele levantou a varinha novamente.
As cobertas rasgaram. O rosto estava translúcido, pálido, submerso, e ainda quase
perfeitamente preservado. Eles haviam deixado os óculos em seu nariz. Ele sentiu uma zombaria
divertida. A varinha de Dumbledore estava cruzada sob seu peito, e ali descansava, abaixo deles,
enterrada com ele.
Teria o velho tolo imaginado que mármore ou morte protegeriam a varinha? Teria ele
pensado que o Lorde das Trevas iria ter medo de violar sua tumba? A mão parecida com aranha
lançou-se e puxou a varinha das mãos de Dumbledore, e quando a pegou, uma chuva de faíscas
voaram ao seu redor, faiscando sobre o corpo de seu último dono, pronto para servir, enfim, a um
novo mestre.
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