Harry poter está aguardando na rua dos Alferneiros. A Ordem da Fênix chegará em breve para trasferi-lo, em segurança, do endereço de sua familia trouxa, sem que Valdemort e seus seguidores saibam. A partir daí, o que Harry deverá fazer? Como será capaz de cumprir a missão, aparentemente impossível, que Dumbledore lhe deixou?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A História de Monstro (capítulo dez)

                                 



Harry acordou cedo na manhã seguinte, envolto em um saco de dormir no
andar da sala de visitas. Uma parte de céu estava visível entre as cortinas pesadas. Era o
azul frio e claro de tinta agüada, em algum lugar entre a madrugada e o amanhecer e tudo
estava quieto, exceto as respirações profundas e baixas de Rony e Hermione. Harry espiou
as figuras escuras que eles faziam no piso ao seu lado. Rony tinha tido um chilique de
galanteio e insistiu que Hermione dormisse nas almofadas do sofá, de forma que sua
silhueta ficasse acima da dele. Seu braço curvado ao chão, seus dedos a centímetros dos de
Rony. Harry imaginou se eles tinham caído no sono de mãos dadas. A idéia o fez sentir
estranhamente solitário.
Ele olhou para o teto sombrio, o candelabro cheio de teias de aranha. Há
menos de vinte horas, ele estava de pé à luz do sol na entrada da marquese, esperando os
convidados do casamento. Parecia uma vida longa e distante. O que ia acontecer agora? Ele
deitou no chão e pensou nas horcruxes, na assustadora e complexa missão que Dumbledore
lhe deixou... Dumbledore...
A tristeza que o tinha possuído desde a morte de Dumbledore era sentida
diferente agora. As acusações que ele tinha ouvido de Muriel no casamento pareciam ter se
aninhado em seu cérebro como algo doente, que infectava suas lembranças do bruxo que
ele tinha idolatrado. Dumbledore poderia ter deixado tais coisas acontecerem? Ele tinha
sido como Duda, contente em assistir negligência e abuso desde que não o afetassem? Ele
poderia ter virado as costas para uma irmã que estava sendo aprisionada e escondida?
Harry pensou em Godric’s Hollow, nos túmulos que Dumbledore nunca
tinha mencionado, ele pensou nos objetos misteriosos deixados sem explicação no
testamento de Dumbledore, e o ressentimento preencheu a escuridão. Por que Dumbledore
não lhe contara? Por que não lhe explicara? Dumbledore de fato se importara com Harry de
alguma forma? Ou Harry fora nada mais que uma ferramenta a ser polida e afiada, mas não
confiado e nunca confidenciado?
Harry não poderia ficar deitado ali com nada além de pensamentos
amargos como companhia. Desesperado por alguma coisa para fazer, por distração, ele
deslizou para fora de seu saco de dormir, pegou sua varinha e arrastou-se para fora da sala.
Na escadaria ele sussurou “Lumos” e começou a subir os degraus com a luz da varinha.
No segundo piso estava o quarto no qual ele e Ron tinham dormido na
última vez que eles estiveram aqui, ele deu uma espiada dentro dele. O guarda-roupa
permanecia aberto e as roupas de cama tinham sido rasgadas. Harry se lembrou da perna de
trasgo no andar de baixo. Alguém tinha revistado a casa desde que a Ordem tinha partido.
Snape? Ou talvez Mundungus, que tinha surrupiado muita coisa da casa antes e depois de
Sirius ter morrido? As contemplações de Harry vaguearam para o retrato que algumas
vezes continha Fineus Nigellus Black, o tataravô de Sirius, mas estava vazio, mostrando
nada além de um espaço de pano de fundo sujo. Fineus Nigellus estava evidentemente
passando a noite no escritório da diretoria em Hogwarts.
Harry continuou a subir as escadas até alcançar a parte superior onde
haviam somente duas portas. A que encarava Harry sustentava uma placa em que se lia
Sirius. Harry nunca tinha entrado no quarto de seu padrinho antes. Ele abriu a porta,
segurando sua varinha para iluminar do modo mais amplo possível. O quarto era espaçoso
e outrora devia ter sido elegante. Havia uma cama grande com uma cabeceira de madeira
entalhada, uma janela alta obscurecida por longas cortinas aveludadas e um candelabro
densamente coberto de poeira ainda com tocos de vela descansando em seus encaixes, cera
sólida suspendia como gotas congeladas. Uma fina película de poeira cobria os quadros nas
paredes e a cabeceira da cama, uma teia de uma aranha esticada entre o candelabro e o topo
de um guarda-roupa grande e quando Harry se moveu mais para dentro da sala, ele ouviu
uma uma corrida de ratos perturbados.
O Sirius adolescente tinha colado nas paredes tantos pôsteres e fotos que
pouco da seda cinza-prateado da parede era visível. Harry não poderia só supor que os pais
de Sirius foram incapazes de remover o Feitiço Adesivo Permanente que os mantinha na
parede porque ele tinha certeza que eles não teriam apreciado o gosto de seu filho mais
velho de decoração. Sirius parecia por muito tempo ter mudado seus hábitos para irritar
seus pais. Haviam sete banners(cartazes) grandes, de vermelho e ouro desbotado só para
sublinhar sua diferença de todo o resto da família sonserina. Haviam muitas fotos de
motocicletas de trouxas e também (Harry teve que admirar a coragem de Sirius) diversos
pôsteres de moças trouxas de biquíni. Harry poderia dizer que elas eram trouxas porque
ficavam bem imóveis dentro de suas fotos, sorrisos desbotados e olhos vidrados congelados
no papel. Esta estava em contraste com a única fotografia bruxa na parede que era uma
imagem de quatro alunos de Hogwarts parados de braços cruzados, rindo para a câmera.
Com um sobressalto de agrado, Harry reconheceu seu pai, seus cabelos
pretos e desajeitados para trás como os de Harry e ele também usava óculos. Ao lado dele
estava Sirius, descuidadamente bonito, seu rosto um pouquinho arrogante tão mais jovem e
mais feliz do que Harry já o vira vivo. À direita de Sirius estava Pettigrew, mais do que
uma cabeça mais curta, rechonchudo e olhos aquosos, molhados de prazer por sua inclusão
na mais legal das gangues, com os rebeldes muito admirados que Tiago e Sirius tinham
sido. À esquerda de Tiago estava Lupin, até então de aparência um pouco desgastada, mas
ele tinha o mesmo ar de surpresa satisfeita em se encontrar incluído ou era simplesmente
porque Harry sabia como tudo tinha acontecido, que ele via essas coisas na foto? Ele tentou
pegá-la da parede, era dele agora, afinal de contas, Sirius tinha lhe deixado tudo, mas a foto
não se movia. Sirius não tinha tirado nenhuma chance de prevenir seus parentes de
redecorarem seu quarto.
Harry olhou por volta do chão. O céu estava ficando mais claro. Um raio
de luz revelava algumas quantias de papel, livros e objetos pequenos espalhados sobre o
tapete. Evidentemente o quarto de Sirius tinha sido mexido também, embora seu conteúdo
pareceu ter sido julgado na maior parte, senão completamente, sem valor. Alguns livros
tinham sido sacudidos rudemente o suficiente para se separar das capas e páginas diferentes
que sujavam o chão.
Harry se curvou, pegou alguns pedaços de papel e os examinou. Ele
reconheceu um como a parte de uma velha edição de A História da Magia, de Batilda
Bagshot, e outro como pertence de uma manual de manutenção de uma motocicleta. O
terceiro estava escrito à mão e amarrotado. Ele o alisou.
Querido Almofadinhas,
Muito obrigado, muito obrigado pelo presente de aniversário do Harry!
Foi o favorito dele até agora. Um ano de idade e já plana numa vassoura de brinquedo, ele
parecia tão satisfeito consigo mesmo. Estou incluindo uma foto para que você possa ver.
Você sabe que ela só levanta a aproximadamente dois pés de alturas do chão, mas ele
quase matou o gato e quebrou um vaso horrível que Petúnia me enviou de Natal (sem
reclamações aqui). É claro que James achou que foi tão engraçado, diz que ele vai ser um
grande jogador de quadribol, mas nós tivemos que tirar do caminho todos os ornamentos e
ter certeza que não vamos tirar o olho dele quando ele começar.
Nós tivemos um chá de aniversário muito discreto, só nós e a velha Batilda que
sempre foi um doce conosco e que adora Harry. Sentimos muito por você não poder vir,
mas a Ordem tem que vir primeiro e Harry não é velho suficiente para saber que é
aniversário dele de qualquer forma! Tiago está ficando um pouquinho frustrado trancado
aqui, ele tenta não mostrar isso, mas eu posso dizer - também Dumbledore ainda está com
a Capa de Invisibilidade dele - então sem chance de pequenas excursões. Se você pudesse
visitá-lo, isto o animaria tanto. Rabicho esteve aqui no fim de semana passado. Achei que
ele parecia desanimado, mas isso foi provavelmente depois dos McKinnons, eu chorei a
noite inteira quando eu soube.
Batilda nos visita quase todos os dias, ela é uma criatura fascinante com
as histórias mais incríveis sobre Dumbledore. Não tenho certeza se ele ficaria contente se
soubesse! Eu não sei em quanto acreditar na verdade, porque parece incrível que
Dumbledore...
As extremidades de Harry pareceram ter se anestesiado. Ele ficou bem
parado, segurando o milagroso papel em seus dedos inertes enquanto dentro dele um tipo
de erupção quieta enviava trovejantes alegria e tristeza em medidas iguais pelas suas veias.
Inclinando-se para a cama, ele se sentou. Leu a carta novamente, mas não pôde captar mais
nenhum significado que ele tinha conseguido na primeira vez, e foi reduzido a encarar a
própria caligrafia. Ela fazia os "g" da mesma maneira que ele. Ele procurou na carta por
cada um deles, e em cada um sentiu uma pequena onda amigável vislumbrada por trás de
um véu. A carta era um tesouro incrível, prova de que Lilian Potter tinha vivido, realmente
vivido, que sua mão quente tinha uma vez se movido por este pergaminho, traçando tinta
dentro dessas letras, dessas palavras, palavras a respeito dele, Harry, seu filho.
Impacientemente removendo a umidade de seus olhos, ele releu a carta,
desta vez se concentrando no significado. Era como ouvir uma voz meio lembrada.
Eles tinham um gato... talvez ele tinha perecido, como seus pais em
Godric's Hollow... ou então fugiu quando não havia mais ninguém para alimentá-lo... Sirius
tinha comprado para ele sua primeira vassoura... seus pais tinham conhecido Batilda
Bagshot; Dumbledore os tinha apresentado? Dumbledore ainda está com a Capa de
Invisibilidade dele... tinha algo engraçado aí...
Harry parou, ponderando as palavras de sua mãe. Por que Dumbledore
tinha tomado a Capa da Invisibilidade de Tiago? Harry lembrava claramente seu diretor
contando-lhe anos atrás: “Eu não preciso de uma capa para ficar invisível”. Talvez algum
membro menos talentoso da Ordem tinha precisado da ajuda dela e Dumbledore tinha agido
como um transportador? Harry continuou...
Rabicho esteve aqui... Pettigrew, o traidor, tinha parecido “desanimado”,
mesmo? Ele estava ciente de que estava vendo Tiago e Lilian pela última vez?
E finalmente Batilda de novo, que contou histórias incríveis sobre
Dumbledore. Parece incrível que Dumbledore...
Que Dumbledore o que? Mas haviam vários números de coisas que
pareceriam incríveis sobre Dumbledore; que ele tinha uma vez recebido notas ótimas em
um exame de Transfiguração, por exemplo, ou tinha feito feitiços em um bode como
Aberforth...
Harry levantou-se e analisou o chão. Talvez o resto da carta estivesse
aqui em algum lugar. Ele agarrou papéis, tratando-os com entusiasmo, com menos
consideração que o primeiro pesquisador, puxou as gavetas, sacudiu livros, subiu em uma
cadeira para passar a mão no topo do guarda-roupa, e engatinhou para olhar embaixo da
cama e da poltrona.
Finalmente, deitado de bruços no chão, ele identificou o que parecia um
pedaço rasgado de papel debaixo da cômoda. Quando ele o puxou, provou ser a maior parte
da fotografia que Lilian tinha descrito em sua carta. Um bebê de cabelos pretos estava
entrando e saindo da foto em uma vassoura muito pequena, gargalhando estrondosamente, e
um par de pernas que deve ter pertencido a Tiago perseguindo-o. Harry enfiou a fotografia
dentro de seu bolso com a carta de Lilian e continuou a procurar a segunda folha.
Após outros quinze minutos, contudo, ele foi forçado a concluir que o
resto da carta de sua mãe tinha se extraviado. Tinha sido extraviado durante os dezesseis
anos que tinham se passado desde quando fora escrita? Ou tinha sido levado por quem quer
que tivesse procurado no quarto? Harry leu a primeira folha de novo, desta vez procurando
pistas para o que poderia ter sido a segunda valiosa folha . Sua vassoura de brinquedo
dificilmente poderia ser considerada interessante para os comensais da morte... a única
coisa potencialmente útil que ele poderia ver nela era a informação possível sobre
Dumbledore. Parece incrível que Dumbledore – o quê?
- Harry? Harry? Harry!
- Eu estou aqui! - Ele chamou. - O que aconteceu?
Houve um ruído de passos do lado de fora da porta e Hermione entrou
bruscamente.
- Nós acordamos e não soubemos onde você estava! - Ela disse sem ar.
Ela se virou e gritou por cima de seus ombros. - Rony, eu o encontrei!
A voz irritada de Rony ecoou de longe de diversos andares abaixo:
- Bom! Diga a ele por mim que ele é um imbecil!
- Harry, não desapareça assim, por favor, estávamos aterrorizados! Por
que você veio aqui de qualquer forma?- Ela observou a sala saqueada. - O que você está
fazendo?
- Olhe o que eu acabei de achar!
Ele estendeu a carta de sua mãe. Hermione a pegou e leu enquanto Harry
a olhava. Quando ela chegou ao fim da página ela olhou para ele.
- Ah, Harry...
- E há isso também.
Ele lhe passou a fotografia rasgada e Hermione sorriu para o bebê
voando para dentro e fora de visão na vassoura de brinquedo.
- Eu estou procurando pelo resto da carta, - Harry disse, - mas não está
aqui.
Hermione observou a sala.
- Você fez toda essa bagunça ou um pouco dela estava assim quando
você entrou aqui?
- Alguém tinha procurado antes de mim, - disse Harry.
- Foi o que pensei. Todos os quartos que eu espiei no caminho tinham
sido revirados. No que eles estavam interessados você acha?
- Informação sobre a Ordem, se foi o Snape.
- Mas você pensaria que ele já teria tudo o que precisava. Quero dizer,
ele estava na Ordem, não estava?
- Bem, então - disse Harry, entusiasmado para discutir sua teoria, - e
informação sobre Dumbledore? A segunda página do pergaminho, por exemplo. Você sabe
que essa Batilda que minha mãe menciona, você sabe quem ela é?
- Quem?
- Batilda Bagshot, a autora de...
- Uma História da Magia, - disse Hermione, olhando interessada. -
Então seus pais a conheciam? Ela foi uma historiadora mágica incrível!
- E ela ainda está viva, - disse Harry, - e ela mora em Godrics Hollow. A
tia do Rony, Muriel, estava falando dela no casamento. Ela conhecia a família de
Dumbledore também. Seria bem interessante para uma conversa, ela não seria?”
Havia um entendimento meio exagerado demais, pro gosto de Harry, no sorriso
que Hermione lhe deu. Ele tomou de volta a carta e a fotografia e as enfiou dentro da bolsa
pendurada em seu pescoço, para que não tivesse que olhar para ela e se denunciar.
- Eu entendo que você gostaria de conversar com ela sobre sua mãe e seu
pai, e Dumbledore também - disse Hermione. - Mas isso não nos ajudaria em nossa busca
pelas horcruxes, ajudaria? - Harry não respondeu e ela se apressou: - Harry, eu sei que você
realmente quer ir a Godrics Hollow, mas eu tenho medo. Eu me assustei com como foi tão
fácil para aqueles comensais da morte nos encontrarem ontem. Isso só me fez sentir mais
do que nunca que nós devemos evitar o lugar onde os seus pais estão enterrados, tenho
certeza que eles estariam esperando que você o visitasse.
- Não é só isso.- Harry disse, ainda evitando olhar para ela, - Muriel
disse coisas sobre Dumbledore no casamento. Eu quero saber a verdade...
Ele contou a Hermione tudo o que Muriel lhe contou. Quando ele tinha
terminado, Hermione disse:
- É claro, eu posso ver por que isso tem te preocupado, Harry.”
- Eu não estou preocupado,- ele mentiu, - eu só gostaria de saber se é ou
não verdade ou...
- Harry, você realmente acha que você vai conseguir a verdade de uma
mulher velha maliciosa como Muriel, ou da Rita Skeeter? Como você pode acreditar nelas?
Você conhecia Dumbledore!
- Eu achei que eu o conhecia,- ele murmurou.
- Mas você sabe quanta verdade havia em tudo o que Rita escreveu sobre
você! Doge está certo, como você pode deixar essas pessoas mancharem suas memórias de
Dumbledore?
Ele desviou o olhar, tentando não trair o ressentimento que sentia. Ali
estava de novo: escolher o que acreditar. Ele queria a verdade. Por que todo mundo estava
tão determinado que ele não deveria obtê-la?
- Vamos descer para a cozinha? - Hermione sugeriu após uma pausa
pequena. - Achar alguma coisa para o café da manhã?
Ele concordou, mas de má vontade, e a seguiu para fora para a escadaria
e passou pela segunda porta de saída. Haviam profundas marcas arranhadas na pintura
embaixo de uma placa pequena que ele não tinha notado na escuridão. Ele passou no topo
das escadas para lê-la. Era uma plaquinha pomposa, organizadamente escrita à mão, o tipo
de coisa que Percy Weasley poderia ter prendido na porta de seu quarto.
Não entre
sem a expressa permissão de
Régulo Arcturus Black
Excitação escorreu por Harry, mas ele não estava imeadiatamente certo
do porquê. Ele leu a placa de novo. Hermione já estava em muitos degraus abaixo dele.
- Hermione, - ele disse, e estava surpreso que sua voz estivesse tão
calma. - Volte aqui para cima.
- Qual é o problema?
- R.A.B, eu acho que eu o achei.
Houve uma arfada e então Hermione correu de volta para cima.
- Na carta da sua mãe? Mas eu não vi...
Harry negou com a cabeça, apontando para a placa de Régulo. Ela a leu,
então agarrou o braço de Harry com tanta força que ele se contraiu.
- O irmão de Sirius? - ela sussurrou.
- Ele era um comensal da morte, - disse Harry. - Sirius me falou sobre
ele, ele se alistou quando era realmente jovem e depois tentou escapar, então eles o
mataram.
- Isso encaixa! - arfou Hermione. - Se ele era um comensal da morte ele
tinha acesso a Voldemort, e se ele ficou desiludido, então ele teria querido derrubar
Voldemort!
Ela soltou Harry, apoiou-se sobre o corrimão e gritou: - Rony! RONY!
Suba aqui, rápido!
Rony apareceu, ofegando, um minuto depois, sua varinha pronta em sua
mão.
- O que foi? Se for aranhas imensas de novo eu quero tomar café da
manhã antes de eu...
Ele franziu as sobrancelhas para a placa na porta de Régulo, para a qual
Hermione estava silenciosamente apontando.
- O quê? Esse era o irmão do Sirius, não era? Régulo Arcturus...
Régulo... R.A.B! O medalhão, você não supõe que...?
- Vamos descobrir, - disse Harry. Ele empurrou a porta: estava fechada.
Hermione apontou sua varinha para a maçaneta e disse: “Alohomora”. Houve um clique e
a porta se abriu.
Eles se moveram sobre o limiar, observando o lugar. O quarto de Régulo
era levemente mais pequeno que o de Sirius, embora tinha a mesma sensação de anterior
grandeza. Visto que Sirius tinha procurado anunciar sua diferença do resto da família,
Regulus tinha se esforçado em fazer o oposto. As cores de Slytherin de esmeralda e prata
estavam por toda a parte, guarnecendo a cama, as paredes e as janelas. O brasão da família
Black estava meticulosamente pintado sobre a cama, junto com seu lema, “TOUJOURS
PUR” (Sangue é poder). Embaixo dele havia uma coleção de recortes de jornais
amarelados, todos grudados um no outro para fazer uma colagem irregular. Hermione
atravessou o quarto para examiná-la.
- São todas sobre Voldemort - ela disse. - Régulo parece ter sido um fã
por poucos anos antes de se juntar ao comensais da morte...”
Um monte de poeira elevou-se da colcha quando ela se sentou para ler
os recortes. Harry, entretanto, tinha notado outra fotografia: uma equipe de quadribol de
Hogwarts estava sorrindo e acenando na foto. Ele se moveu para mais perto e viu as cobras
adornadas em seus peitos: Slytherin. Régulo foi instantaneamente reconhecido como o
garoto sentado no meio da fila da frente: ele tinha os mesmos cabelos pretos e o olhar
levemente presunçoso de seu irmão, embora ele era pequeno, esguio e bem menos bonito
que Sirius tinha sido.
- Ele era apanhador, - disse Harry.
- O quê?- disse Hermione vagamente. Ela estava ainda submersa com os
recortes de jornais de Voldemort.
- Ele está sentado no meio da fila da frente, que é onde o apanhador...
não importa, - disse Harry, percebendo que ninguém estava ouvindo. Rony estava agachado
de quatro, procurando embaixo do guarda-roupa. Harry olhou em volta do quarto por
esconderijos prováveis e se aproximou da escrivaninha. Contudo, de novo, alguém tinha
procurado antes deles. O conteúdo da gaveta tinha sido roubado recentemente, a poeira
remexida, mas não havia nada de valor ali: penas velhas, livros escolares desatualiazados
que comprovavam a evidência de terem sido tratados rudemente, um tinteiro recente
quebrado, seu resíduo pegajoso cobrindo o conteúdo da gaveta.
- Há um modo mais fácil, - disse Hermione, quando Harry limpou seus
dedos sujos de tintas em sua calça, ela levantou sua varinha e disse: “Accio medalhão!”
Nada aconteceu. Rony, que estava procurando nas dobras das cortinas
desbotadas pareceu se decepcionar.
- É isso, então? Não está aqui?
- Ah, poderia ainda estar aqui, mas sob contra-feitiços, - disse Hermione. - Feitiços
para previni-lo de ser convocado magicamente, você sabe.
- Como Voldemort colocou na bacia de pedra na caverna, - disse Harry,
lembrando-se de como ele foi incapaz de convocar o medalhão falso.
- Como é que vamos achá-lo então? - Perguntou Ron.
- Nós procuramos maunalmente - disse Hermione.
- Essa é um idéia boa, - disse Ron, pestanejando, e reiniciou sua examinação das
cortinas.
Eles reviraram cada canto do quarto por mais que uma hora, mas foram forçados,
finalmente, a concluir que o medalhão não estava lá.
O sol tinha nascido agora; sua luz os ofuscou até mesmo através das janelas sujas.
- Poderia estar em qualquer lugar da casa mesmo assim, - disse Hermione e um
tom animado quando eles foram para o andar de baixo. Visto que Harry e Rony tinham
ficado mais desencorajados, ela pareceu ter ficado mais determinada. - Caso ele tivesse
conseguido destrui-lo ou não, ele iria querer mantê-lo escondido de Voldemort, não iria?
Vocês se lembram de todas aquelas coisas terríveis que nós tivemos que nos livrar quando
estávamos aqui da última vez? Aquele relógio que atirava faíscas em todos e aquelas roupas
velhas que tentaram estrangular Ron; Régulo pode tê-las colocado lá para proteger o
esconderijo do medalhão, mesmo assim nós não o percebemos na... na...
Harry e Rony olharam para ela. Ela estava com um pé na escada e outro no ar,
com um olhar vago de quem tinha acabado de ser adingido por um feitiço obliviador; seus
olhos tinham até saído de foco.
- ...naquela vez, - ela terminou em um suspiro.
- Algo errado? - perguntou Ron.
- Havia um medalhão.
- O quê? - Disseram Harry e Ron juntos.
- No armarinho da sala de visitas. Ninguém pôde abri-lo. E nós... nós...
Harry sentiu como se um tijolo tivesse escorregado de seu peito para dentro de seu
estômago. Ele se lembrou. Ele até tinha segurado o objeto quando eles o circularam, cada
um tentando por vez forçá-lo a abrir. Tinha sido jogado dentro de um saco de lixo, junto
com a caixa de rapé de pó de Wartcap e a caixa de música que tinha deixado todo mundo
sonolento...
- Monstro afanou um monte de coisas de volta de nós, - disse Harry. Era a única
chance, a única esperança deixada para eles, e ele iria agarrá-la até ser forçado a soltar. -
Ele tinha um amontoado de objetos em seu armário na cozinha. Venham.
Ele desceu as escadarias correndo pulando dois degraus por vez, os outros dois
correndo em sua trilha. Eles fizeram tanto barulho que acordaram o retrato da mãe do Sirius
assim que eles passaram pelo hall.
“Imundície, sangues-ruins, escória!” Ela gritou atrás dele assim que eles
desembestaram dentro do porão da cozinha e bateram a porta atrás deles. Harry correu toda
a extensão do corredor, derrapou em frente da porta do armário do Monstro e a abriu com
força. Havia o abrigo de cobertores velhos nos quais o elfo-doméstico tinha outrora
dormido, mas eles não estavam mais brilhando com as bugigangas que Monstro tinha
salvado. A única coisa que havia era uma cópia antiga de “Nobreza da Natureza: um
genealogia bruxa”. Recusando-se em acreditar nos seus olhos, Harry agarrou os cobertores
e os sacudiu. Um rato morto caiu e rolou tristemente pelo chão. Rony gemeu quando se
atirou na cadeira da cozinha; Hermione fechou os olhos.
- Não acabou ainda, - disse Harry, ele aumentou sua voz e chamou: - Monstro”
Houve um estalo alto e o elfo-doméstico que Harry tinha tão relutantemente
herdado de Sirius apareceu do nada na frente da lareira fria e vazia. Diminuto, tamanho
meio humano, sua pele pálida caindo em pelancas, pêlos brancos crescidos copiosamente
em suas orelhas de morcego. Ele ainda estava vestindo o trapo sujo no qual eles o tinham
conhecido antes, e o olhar desdenhoso que ele dirigiu a Harry mostrou que sua atitude para
sua mudança de dono tinha alterado não mais então que sua vestimenta.
- Mestre, - resmungou Monstro com sua voz de sapo-boi, e ele fez uma reverência
baixa, resmungando para seus joelhos, - de volta na casa da antiga casa de minha senhora
com o traidor do sangue Weasley e a sangue-ruim...
- Eu proíbo você de chamar alguém de ‘traidor do sangue’ ou ‘sangue-ruim’, -
rosnou Harry. Ele teria achado Monstro, com seu nariz tipo fucinho e olhos irritados, um
objeto claramente impossível de ser amado mesmo se o elfo não tivesse traído Sirius para
Voldemort.
- Eu tenho uma pergunta pra você.- Disse Harry seu coração batendo mais rápido
enquanto olhava pra Monstro. - E eu ordeno que você responda com toda a sinceridade.
Entendeu?
- Sim mestre.- Disse Monstro fazendo de novo uma profunda referência. Harry viu
seus lábios se moverem sem som, sem dúvida contendo os insultos que ele tinha sido
proibido de pronunciar.
- Dois anos atrás, - disse Harry, seu coração agora martelando contra suas costelas,
- havia um grande medalhão de ouro na sala de visitas lá em cima. Nós o jogamos fora.
Você o roubou de novo?
Houve um momento de silêncio, durante o qual Monstro endireitou-se para olhar
Harry direto no rosto. Então disse:
- Sim.
- Onde ele está agora? - Perguntou Harry com alegria assim que Ron e Hermione
olharam felizes.
Monstro fechou seus olhos como se ele não pudesse tolerar ver suas reações para
sua próxima palavra.
- Perdido.
- Perdido? - Ecoou Harry, uma grande sensação de desespero tomando conta de
seu espírito. - O que você quer dizer, está perdido?
O elfo tremeu. Ele oscilou.
- Monstro, - disse Harry impetuosamente, - eu ordeno que você...
- Mundungo Fletcher, - resmungou o elfo, seus olhos ainda fechados bem
apertados. - Mundungo Fletcher roubou tudo; os quadros das senhoritas Bela e Ciça, as
luvas de minha senhora, a Ordem de Merlin Primeira Classe, os cálices com o brasão da
família Black, e... e...
- Monstro estava arfando por ar. Seu peito oco estava subindo e descendo
rapidamente, então seus olhos se arregalaram e ele pronunciou um grito de gelar o sangue.
- ... e o medalhão, o medalhão do Mestre Régulo. Monstro portou-se mal, Monstro
falhou com as ordens dele!
Harry reagiu instintivamente. Quando Monstro se arremessou para a pá na lareira,
ele se lançou contra o elfo, achatando-o. Os gritos de Hermione se misturaram com os de
Monstro, mas Harry gritou mais alto que os dois:
- Monstro, eu ordeno que você permaneça imóvel!
Ele sentiu o elfo congelar e o soltou. Monstro ficou esticado no chão de pedra fria,
lágrimas brotando de seus olhos envergados.
- Harry, faça-o cessar! Hermione sussurrou.
- Então ele pode se espancar com a pá? - Bufou Harry ajoelhando-se ao lado do
elfo. - Eu acho que não. Certo. Monstro, eu quero a verdade: como você sabe que
Mundungo Fletcher roubou o medalhão?
- Monstro o viu! - Arfou o elfo assim que lágrimas se derramaram em seu fucinho
e dentro de sua boca cheia de dentes acinzentados. - Monstro o viu saindo do armário do
Monstro com suas mãos cheias de tesouros do Monstro. Monstro disse ao larápio para que
parasse, mas Mundungo Fletcher riu e correu...
- Você chamou o medalhão de ‘medalhão do mestre Régulo’ - disse Harry. - Por
quê? De onde ele veio? O que Régulo teve a ver com ele? Monstro, sente-se e conte-me
tudo o que você sabe sobre aquele medalhão, e tudo sobre o que Régulo teve a ver com ele!
O elfo se sentou, se enrolou como uma bola, pôs sua cara úmida entre seus joelhos,
e começou a se agitar para trás e para frente. Quando ele falou, sua voz estava abafada, mas
bem distinguível na cozinha silenciosa e ecoante.
- Mestre Sirius fugiu, problema resolvido, porque ele era um garoto mau e quebrou
o coração de minha senhora com seus costumes fora da lei. Mas Mestre Régulo tinha
costumes adequados; ele sabia o que era por causa do nome Black e a dignidade de seu
sangue puro. Por anos ele falou sobre o Lord das Trevas, que ia tirar os bruxos do sigilo
para governar os trouxas e os nascidos trouxas... e quando ele completou dezesseis anos de
idade, Mestre Régulo se uniu ao Lord das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz
em servir...
- E um dia, um ano depois que ele se uniu, Mestre Régulo desceu até a cozinha
para ver Monstro. Mestre Régulo sempre gostou de Monstro. E Mestre Régulo disse... ele
disse...
O elfo velho se agitou mais rápido do que nunca.
- ... ele disse que o Lord das Trevas exigia um elfo.
- Voldemort precisava de um elfo? - Harry repetiu, olhando ao redor para Ron e
Hermione, que apenas olharam tão confusos quanto ele.
- Ah, sim - gemeu Monstro. - E Mestre Régulo tinha voluntariado Monstro. Era
uma honra, disse Mestre Régulo, uma honra para ele e para Monstro, que deveria se
certificar em fazer qualquer coisa que o Lord das Trevas o ordenasse fazer... e depois voltar
para casa.
Monstro se agitou ainda mais rápido, sua respiração vindo em soluços.
- Então Monstro foi com o Lord das Trevas. O Lord das Trevas não contou a
Monstro o que ele deveria fazer, mas levou Monstro consigo para uma caverna perto do
mar. E além da caverna havia uma gruta, e na gruta havia um grande lago negro...
Os pêlos na nuca de Harry se arrepiaram. A voz resmungante de Monstro pareceu
chegar até ele através da água escura. Ele viu o que tinha acontecido tão claramente como
se estivesse presente.
- ...havia um barco...
É claro que tinha havido um barco; Harry conhecia o barco, fantasmagoricamente
verde e pequeno, enfeitiçado para carregar um bruxo e uma vítima em direção à ilha no
centro. Isto, então, foi como Voldemort tinha testado as defesas que circulavam a horcrux,
emprestando uma criatura descartável, um elfo-doméstico...
- Havia uma b-bacia cheia de poção na ilha. O Lord das Trevas fez Monstro bebêla...
O elfo tremeu da cabeça aos pés.
- Monstro bebeu, e enquanto ele bebia ele via coisas terríveis...o interior de
Monstro queimava... Monstro gritou para que Mestre Régulo o salvasse, ele gritou pela sua
Senhora Black , mas o Lord das Trevas apenas ria... ele fez Monstro beber a poção toda...
ele deixou cair um medalhão dentro da bacia vazia... ele a encheu com mais poção.
- E depois o Lord das Trevas navegou para longe, deixando Monstro na ilha...
Harry podia ver isso acontecendo. Ele assistia a brancura de Voldemort, rosto
ofídico, desaparecendo na escuridão, aqueles olhos vermelhos fixados sem piedade no elfo
sovado de quem a morte ocorreria dentro de minutos, quando fosse ele sucumbir à
desesperada sede que a poção ardente causaria a sua vítima... mas aqui, a imaginação de
Harry não pôde prosseguir adiante, porque ele não podia ver como Monstro tinha escapado.
- Monstro precisava de água, ele engatinhou para a borda da ilha e bebeu a do lago
negro... e mãos, mãos mortas, saíram da água e dragaram Monstro para baixo da
superfície...
- Como você conseguir escapar? - Harry perguntou, e ele não estava surpreso por
se ouvir sussurrando.
Monstro levantou sua cabeça feia e olhou Harry com seus grandes e olhos rajados
de sangue.
- Mestre Régulo disse a Monstro para voltar - ele disse.
- Eu sei, mas como você escapou dos Inferi?
Monstro não pareceu entender.
- Mestre Régulo disse a Monstro para voltar - ele repetiu.
- Eu sei, mas...
- Bom, é obvio, não é, Harry? - Disse Rony. Ele desaparatou!
- Mas... você não poderia aparatar dentro e fora daquela caverna, - disse Harry, -
senão Dumbledore...
- A magia élfica não é como magia bruxa, é? - Disse Rony. - Digo, eles podem
aparatar e desaparatar dentro e fora de Hogwarts, enquanto que nós não podemos.
Houve um silêncio enquanto Harry digeria isso. Como Voldemort pôde ter
cometido um erro assim? Mas quando ele pensou nisso, Hermione falou, e sua voz estava
fria.
- É claro, Voldemort teria considerado os caminhos dos elfos-domésticos bem
mais abaixo de sua consideração... jamais teria ocorrido a ele que eles poderiam ter mágica
que ele não tinha.
- A lei mais alta do elfo-doméstico é a ordem de seu mestre, - intonou Monstro. -
Foi ordenado a Monstro para voltar para casa, então Monstro voltou para casa...
- Bom, então, você fez o que lhe foi ordenado, não fez? - Disse Hermione
bondosamente. Você não desobedeceu ordens de forma alguma!
Monstro balançou sua cabeça, se agitando tão rápido como nunca.
- Então o que aconteceu quando você voltou? - Harry perguntou. - O que Regulus
disse quando você contou a ele o que aconteceu?
- Mestre Régulo ficou muito preocupado, muito preocupado, - coaxou Monstro. -
Mestre Régulo disse a Monstro para ficar escondido e não sair da casa. E então, era um
pouco tarde... Mestre Régulo veio procurar Monstro em seu armário uma noite, e Mestre
Régulo estava estranho, não como ele geralmente era, perturbado de mente, Monstro
poderia contar... e ele pediu para Monstro para levá-lo à caverna, a caverna onde Monstro
tinha ido com o Lord das Trevas...
E então eles tinham começado. Harry pôde visualizá-los bem claramente, o elfo
ancião e o apanhador magro e escuro que se parecia tanto com Sirius... Monstro soube
como abrir a entrada oculta para a caverna subterrânea, soube como levantar o barco
pequeno; desta vez foi seu amado Régulo que navegou com ele até a ilha com a bacia de
poção.
- E ele te fez beber a poção? - Disse Harry, repugnado.
Mas Monstro negou com a cabeça e chorou. A mão de Hermione moveu-se
repentinamente para sua boca. Ela pareceu ter entendido alguma coisa.
- M-Mestre Régulo tirou de seu bolso um medalhão como aquele que o Lord das
Trevas tinha, - disse Monstro, lágrimas transbordando por cada lado de seu nariz de
focinho. - E ele pediu a Monstro para pegá-lo e, quando a bacia estivesse vazia, para trocar
os medalhões...
Os soluços de Monstro vieram com grande aspereza agora; Harry teve que se
concentrar para entendê-lo.
- E ele ordenou que... Monstro partisse... sem ele. E ele disse a Monstro... para
voltar para a casa... e nunca contar para minha senhora... o que ele tinha feito... mas
destruir... o primeiro medalhão. E ele bebeu... toda a poção... e Monstro trocou os
medalhões... e assistiu... como o Mestre Régulo... foi arrastado para baixo d’ água... e...
- Ah, Monstro! - Lamentou Hermione que estava chorando. Ela ficou de joelhos ao
lado do elfo e tentou abraçá-lo. Imediatamente ele ficou de pé, encolhendo-se para longe
dela, completa e obviamente repelida.
- A sangue-ruim tocou Monstro, ele não permitirá isso, o que sua senhora diria?
- Eu te disse para não chamá-la de ‘sangue-ruim’! - Rosnou Harry, mas o elfo já
estava se castigando. Ele caiu no chão e espancou sua testa no chão.
- Pare ele, pare ele! - Hermione gritou. - Ah, você não vê como é doentio, o modo
como eles têm que obedecer?
- Monstro, pare, pare!- Gritou Harry.
- O elfo deitou no chão, ofegando e tremendo, muco verde brilhava em volta de
seu focinho, uma contusão já florescia em sua testa pálida onde ele tinha se espancado, seus
olhos inchados e inflamados, nadando em lágrimas. Harry jamais tinha visto algo tão
patético.
- Então você trouxe o medalhão para casa, - ele disse grosseiramente, porque ele
estava eterminado a saber a história completa. - E você tentou destrui-lo?
- Nada que Monstro fez produziu qualquer marca nele, - gemeu o elfo. - Monstro
tentou tudo, tudo que ele sabia, mas nada, nada funcionava... muitos feitiços poderosos no
invólucro, Monstro tinha certeza que a maneira de destrui-lo era conseguir abri-lo, mas ele
nunca se abriria. Monstro se castigou, tentou de novo, se castigou, tentou de novo. Monstro
falhou em obedecer ordens, Monstro não pôde destruir o medalhão! E sua senhora estava
louca de tristeza, porque Mestre Régulo tinha desaparecido e Monstro não podia contar a
ela o que tinha acontecido, não, porque Mestre Régulo o tinha proibido de contar para
alguém da família o que aconteceu na c-caverna...
Monstro começou a soluçar tão forte que não haviam mais palavras coerentes.
Lágrimas escorerram pelas bochechas de Hermione enquanto ela assistia Monstro, mas ela
não se atreveu a tocá-lo de novo. Até mesmo Rony, que não era fã algum de Monstro,
parecia preocupado. Harry sentou-se com os braços cruzados e balançou negativamente sua
cabeça, tentando clareá-la.
- Eu não compreendo você, Monstro, - ele disse finalmente. - Voldemort tentou te
matar, Régulo morreu para matar Voldemort, mas você ainda ficou feliz em trair Sirius para
Voldemort? Você ficou feliz por ir até Narcisa e Belatriz, e passar informação para
Voldemort através delas...
- Harry, Monstro não pensa assim, - disse Hermione, limpando seus olhos nas
costas de sua mão. - Ele é um escravo; elfos-domésticos estão acostumados ao mau, até
mesmo tratamento brutal; o que Voldemort fez para Monstro não foi tão distante da
maneira comum. O que guerras bruxas significam para um elfo como Monstro? Ele é leal
com as pessoas que são bondosas para ele, e a Sra. Black deve ter sido, e Régulo
certamente era, então ele os serviu de bom grado e imitou suas crenças. Eu sei o que você
vai falar, - ela continuou assim que Harry começou a protestar, - que Régulo mudou de
idéia... mas ele não parece ter explicado isso para Monstro, parece? E eu acho que eu sei
por quê. A família de Monstro e Regulus estariam todas mais seguras se ele mantivessem a
velha linhagem da pureza de sangue. Régulo estava tentando proteger todos eles.
- Sirius...
- Sirius foi horrível para Monstro, Harry, e não me olhe assim, você sabe que é
verdade. Monstro ficou sozinho por um tempo tão longo quando Sirius veio para viver
aqui, e estava provavelmente desejando um pouquinho de afeição. Tenho certeza que a
“Srta Ciça” e a “Srta Bela” foram perfeitamente adoráveis com Monstro quando ele voltou,
então ele fez um favor para elas e contou a elas tudo o que elas queriam saber. Eu tenho
dito desde o começo que bruxos pagariam por como eles tratam os elfos-domésticos. Bom,
Voldemort pagou... e Sirius também.
Harry não tinha resposta. Vendo Monstro soluçando no chão, ele se lembrou do
que Dumbledore tinha dito a ele, meras horas após a morte de Sirius: Eu não creio que
Sirius alguma vez tenha visto Monstro como um ser com sentimentos tão profundos quanto
o dos humanos...
- Monstro, - disse Harry após um tempo, - quando você se sentir pronto para fazer
isso, hmm... por favor, sente-se.
Passaram diversos minutos antes de Monstro parar de soluçar e se silenciar. Então
ele se empurrou para um posição sentada de novo, esfregando seus nós dos dedos em seus
olhos como uma criancinha.
- Monstro, vou pedir para você fazer algo, - disse Harry. Ele olhou de relance para
Hermione por assistência. Ele queria dar a ordem bondosamente, mas ao mesmo tempo, ele
não podia fingir que não era uma ordem. Entretanto, a mudança em seu tom pareceu ter
ganhado sua aprovação. Ela sorriu de maneira encorajante.
- Monstro, eu quero que você, por favor, vá e ache Mundungo Fletcher. Nós
precisamos descobrir onde o medalhão do Mestre Regulus está. É realmente importante.
Nós queremos terminar o trabalho que Mestre Régulo começou, nós queremos... hmm...
assegurar que ele não tenha morrido em vão.
Monstro baixou seus punhos e olhou para Harry.
- Encontrar Mundungo Fletcher? - Ele coaxou.
- E traga-o aqui, para o Largo Grimmauld, - disse Harry. - Você acha que você
poderia fazer isso para nós?
Assim que Monstro acenou e ficou de pé, Harry teve uma repentina inspiração. Ele
puxou a bolsa de Hagrid e tirou o medalhão substituto no qual Régulo tinha colocado o
bilhete para Voldemort.
- Monstro, eu... hmm, gostaria que você tivesse isso, - ele disse, apertando o
medalhão na mão do elfo. - Isto pertenceu a Régulo e eu tenho certeza que ele iria querer
que você o tivesse como um sinal de gratidão pelo quanto você...
- Se sacrificou por isso, amigo - disse Rony quando o elfo deu uma olhada no
medalhão, soltou um uivo de choque e tristeza, e se jogou de volta no chão.
Eles demoraram quase meia hora para acalmar Monstro, que estava tão devastado
por ser presenteado com uma relíquia da família Black só sua que seus joelhos estavam
fracos demais para ficar em pé propriamente. Quando finalmente ele foi capaz de dar
poucos passos, todos eles o acompanharam até seu armário, o assistiram enfiar o medalhão
seguramente em seus cobertores sujos, e assegurou-lhe que eles fariam de sua proteção a
primeira prioridade deles enquanto ele estivesse fora. Ele então fez duas reverências baixas
para Harry e Ron, e até fez um pequeno movimento involuntário na direção de Hermione
que pode ter sido uma tentativa para uma saudação respeitosa, antes de desaparatar com o
comum e alto craque.

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